Rubrica: Este é o primeiro riff do resto da tua vida #2

Adeus Leopoldina, olá festivais!


Na última semana ocorreram situações que me deixaram a pensar, mas nenhuma delas parecia ter sumo suficiente para dar inicio a mais uma crónica, até que uma sucessão de acontecimentos me fez construir analogias que quis trazer para a minha rubrica "domingueira".

Obama foi reeleito, o que por si só, na minha opinião, já é uma boa notícia, mas o que ninguém sabe é que enquanto a minha rua “adormecia” a ver a vitória de Obama a ser lentamente consumada  o café mais próximo da minha casa, estava, em simultâneo, a ser assaltado. Muito bem, o café foi assaltado, os donos tiveram um enorme prejuízo e eu tive de beber café 500 metros mais longe de casa, mas então e a crónica?

Graças ao assalto consegui finalmente encontrar um fio condutor para a minha crónica visto que no estabelecimento, no qual não costumo beber café, vi o anúncio de natal de uma cadeia de supermercados, no qual a mascote, chamada “Pópóta”, apresentava uma versão muito estranha do tema «Party Rock Anthem» dos LMFO. Para aumentar ainda mais o grau de “estranheza” reparei que, para além da versão da música, a mascote apresentava trajes menores num anúncio concebido para crianças, o que me fez reflectir.

É triste, meus senhores e senhoras, nascidos nas décadas de 80 e 90, mas a Leopoldina, aquela ave grande, sorridente, idêntica ao “Poupas” da Rua Sésamo, e cuja música nunca vamos esquecer, foi substituída por um animal que pesa toneladas, come até 68 quilos de erva por dia e que tem uma mordedela superior à de um leão! Mas não foi só o animal que mudou, o mundo também e hoje vemos crianças muito mais interessadas em “coisas de adultos”, tendência que as campanhas comerciais parecem estar a aproveitar da melhor forma. Numa época onde o natal parece estar em risco por força das últimas medidas de austeridade, reparei que até os adultos são “seduzidos” para os anúncios que antigamente eram apenas para crianças. As grandes superfícies comerciais não estão sós, visto que este ano reparei numa mudança que não deixei de relacionar com estas verdadeiras “manobras de marketing”.

Desde que me lembro do festival «Optimus Alive», que este me conseguiu cativar quase sempre através dos cartazes que foi apresentando ao longo dos anos. Lembro-me de que em 2009, após duas edições, estava “em pulgas” para saber quem ia pisar os três palcos do festival, e em Janeiro, apenas existiam especulações em torno da visita dos norte-americanos Metallica, que acabaram depois por ser confirmados para o dia 9 de Julho no Passeio Marítimo de Algés. Hoje reparo que entre Outubro e Novembro, de 2012,  já foram confirmados três nomes para atuar no mesmo festival no próximo ano. É apenas obra do acaso? Não me parece, mesmo porque não se confirmam, com 8 meses de antecedência, nomes como Depeche Mode, Kings of Leon, e Two Door Cinema Club por obra de um acaso.



O Optimus Alive é um dos festivais mais "invadidos" em Portugal desde 2007.


Na minha opinião a forma como a promotora do evento, Everything is new, lançou estes autênticos cabeça de cartaz pode muito bem configurar uma sugestão de “oferta natalícia” sob forma de passe dos três dias de festival. As três bandas abrangem vários tipos de público, e são, ao mesmo tempo, transversais a qualquer faixa etária. Kings of Leon: tornaram-se uma das bandas mais ouvidas pelos portugueses nos últimos, muito por força do êxito de «Use Somebody», single do quarto álbum da banda. Já os Depeche Mode, autores de «Enjoy the Silence», são já um fenómeno de longa data em terras lusas. Com um público menos abrangente surgem os Two Door Cinema Club, banda que, para muitos, deu um dos melhores concertos do festival Sudoeste TMN no passado mês de agosto.

Arrisco-me a dizer que muitos “festivaleiros” vão avançar para a compra do passe já no natal, e com isto passar o próximo mês a ”contar trocos”, visto que numa época como esta em que as prendas vão escassear, todos os cêntimos serão determinantes. Vou até mais longe e aposto que, este ano, os visitantes abaixo dos 16 anos vão crescer em número, não fosse essa uma realidade cada vez mais verificada nos festivais de verão portugueses. Nestes casos podemos até imaginar o duro golpe que será entregar à “senhora da bilheteira” o dinheiro amealhado durante todo o ano, ou até mesmo a revolta em aniquilar o tão estimado “porquinho rosa”, que normalmente até é complicado de partir.

Quem sabe, com o avançar dos tempos e das vontades possa ser possível que, daqui a alguns anos, em vez de observarmos uma criança acordar às 7 da manhã, a um Domingo, para ver anúncios da Playmobil ou da Rita Gatinha/ Caminha, vamos sim encontrar a mesma criança, a acordar à mesma hora, para ver anúncios dos principais festivais de verão nacionais. Talvez a reação as estes "novos anúncios" pudesse ser idêntica à do passado com a típica frase, neste caso, ligeiramente alterada: "Pai, mãe, quero o bilhete para este festival!Vá lá!". Esta ideia pode parecer menos anedótica se virmos que "miúdos" de 12 e 13 anos já frequentam festivais como o Rock in Rio e o Alive sem acompanhamento dos pais. É só subtrair três ou quatro anos e encontramos a idade dos anúncios matutinos.Dá que pensar não dá?


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