Rubrica: Designer Precisa-se! #4

A origem do mal

Já vimos, nas três edições anteriores, que a influência nas capas atuais provém da “eletrecidade” e brilho ostensivo dos anos 80. A revolução tecnológica dos 16 bit’s e dos sintetizadores assim como uma nova vaga de músicos “estudados” trouxeram a esta década, aparentemente “milenar”, arranjos mais aprofundados que tronaram qualquer tema, composto – por exemplo - num quarto de hotel, uma obra-prima irreconhecível e com muito “power”. Mas este brilho espampanante, e por vezes demasiado colorido, teve os seus antepassados recentes, visto que a década de 70 já tinha deixado “sementes”.

Tudo pode ter começado em 1967, quando os Beatles lançarem Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, álbum que influenciou toda uma geração e que muitos acreditam ser a primeira capa verdadeiramente pensada e com olhar artístico. Aberto o precedente, segue-se uma autêntica revolução no Rock britânico, que lançou bandas como Pink Floyd, numa primeira fase, ou Black Sabbath e Led Zeppelin numa segunda vaga. Lançadas as bandas o eterno “combate” entre Estados Unidos e Inglaterra, para encontrar a nação com os artistas Rock mais aclamados, intensificou-se e o caso que vos trago hoje não está de todo dissociado dessa autêntica “guerra fria” de acordes, letras e ritmos.

Em 1968, um ano depois de os Beatles lançarem “Sgt. Peppers”, surgem os Deep Purple, banda natural de Hertfordshire (Inglaterra), que alcançou o sucesso através do som simples, forte e dos solos que viriam a marcar a história do Heavy Metal, género musical inexistente na época e que veio a dar os seus primeiros passos poucos anos mais tarde.

"Smoke on the Water" é o tema mais emblemático da banda Inglesa


Decerto, o tema que marca a história da banda britânica é, de todo, “Smoke on the Water”, o quinto tema de Machine Head, sexto álbum da banda. Este foi não só o responsável pelos milhões de discos vendidos no mundo inteiro como também pela autêntica revolução que operou na composição de riffs de guitarra. A possibilidade de um “míudo” aprender a tocar guitarra através de um riff básico, mas com grande impacto, agradou a gerações de crianças e jovens dos cinco continentes.

Sabe-se que o tema foi gravado em estúdio em Dezembro de 1971. No mesmo ano a banda britânica lançou Fireball, álbum que marcou o inicio da “fase II”, como vulgarmente é chamada. Nesse trabalho a sonoridade da banda sofreu algumas alterações e ocorreu uma troca na formação original. Road Evans (voz) e Nick Simper (baixo) divergentes com os restantes elementos, em relação à sonoridade que a banda queria construir, vieram a ser substituídos por Ian Gillan (voz) e Roger Glover (baixo), que permitiram aos Deep Purple iniciar o seu percurso no mundo da “eletrec idade” e ao mesmo tempo poder compor álbuns muito mais versáteis, para além do “classic rock”.


Fireball pode até ter uma capa inestética mas é responsável pela viragem sonora dos Deep Purple.


Mas se a sonoridade da banda veio a alterar-se e sobretudo a amadurecer, o bom gosto pela edição das capas também deveria ter seguido a corrente, isto porque Fireball apresenta uma “face” no mínimo estranha e que não joga muito a favor do bom material que ali começava a surgir. Quando observo a capa deste álbum destaco, à partida, quatro elementos fundamentais: O bom lettring escolhido para o nome da banda, sóbrio na posição certa e numa cor neutra, o fundo “espacial” muito típico da época e ao qual já vou estando habituado, o lettring do nome do álbum, que acho apropriado à época e que apenas peca pela posição e finalmente o estranho meteorito - que se assemelha a uma célula reprodutiva masculina – e cujo núcleo contem as faces dos cinco elementos que observam algo, supostamente, fora de campo.

É certo que neste caso podemos associar esta tendência para as capas espaciais com o fenómeno tecnológico da época que tinha culminado, dois anos antes, com a chegada de Neil Armstrong à lua, e que este “estranho meteorito” esteja ligado ao nascimento de uma nova fase da banda, na qual o criativo e engenhoso guitarrista Ritchie Blackmore pôde finalmente aumentar o som e o “patrão” Ian Paice pôde finalmente dar uso à tecnologia multipistas e dar “pujança” às suas malhas de bateria. Mas e então porque raio haveriam eles de estar no dito meteorito? Não consigo entender este fenómeno.


Veja aqui a atuação ao vivo dos Deep Purple com o tema: "The Mule", um dos singles do álbum Fireball 


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