Viajei com o Acaso Até Aqui #13

O álbum de estreia não tem um ano de existência. From the Roots Up chegou às discotecas em Julho de 2012 pela chancela da Atlantic Records, com a qual assinou contrato aos 17 anos. Antes, a voz de Paloma Ayana Stoecker já tinha impressionado a Island Records quando um amigo mostrou quatro músicas da sua autoria aos principais gestores da editora.

Mas nem tudo foi obra do acaso. Paloma (ou Delilah) é uma cantora e compositora britânica, nascida em Paris em 1990. Viajou de França até às terras de Sua Majestade depois da separação dos pais. A beleza exótica de Paloma tem as suas razões de ser nas raízes cubanas e nigerianas da mãe, e nas descendências francesas e espanholas do pai, mas as afinidades com a música ganhou-as com o padrasto, DJ e também gestor de uma editora independente. Com isto, conseguiu lidar de perto com bandas de música britânicas e assistir a concertos ao vivo desde muito nova. A perda do ente querido num acidente de carro nunca mais a deixou sair deste mundo: aos 12 anos, teve o piano como o seu primeiro instrumento e, com ele, escreveu a sua primeira letra.

Depois da formação em Direito do Entretenimento, Teoria, Performance e Tecnologia Musical, em menos de nada, Paloma estava a emprestar a voz ao duo de dubstep Chase & Status, no single «Time». Com ele, fez uma tournée de dois anos pelo Reino Unido, até 2011, ao mesmo tempo que fazia de corista em «Heartbeat» de Nneka. Foi até à Irlanda como artista de suporte a outra tournée, agora de Maverick Sabre.

Brilhou em primeiro lugar quando o single de apresentação «Go» mostrou uma Paloma sem uma posição de backingvocals.  Com um sample de «Ain't Noboby» de Chaka Khan, a francesa conseguia a 17ª posição dos tops britânicos.  Seguiu-se «Love You So», já no final daquele ano, e «Breathe» continuou a promoção do disco em Maio do ano seguinte. «Inside My Love» confirmou o talento num cover de Minnie Riperton e o quinto single «Shades of Grey» quase encerrava a promoção, antes de «Never Be Another».




No entretanto, actuou com Emeli Sandé no Londons's KOKO como Revelação MTV'2012, e aquela artista foi também uma das suas colaborações ao lado de Dan Carey, Fraser T. Smith,  Salaam Remi, Sam Dixon, Rick Nowels ou Sia Furler.

O dupstep e o drum & bass são os mundos de Delilah, inspirada em Ella Fitzgerald, Sade Adu, Alanis Morissette, The XX e Buena Vista Social Club.  É uma Rihanna mais discreta, uma Aaliyah mais ousada e uma Katy B mais madura. É feita de low profile, portanto.

http://delilahofficial.co.uk/
http://www.last.fm/music/Delilah 


Cartaz do Alive! acolhe mais dois nomes

O Festival Optimus Alive! têm mais dois nomes confirmados: Tame Impala e Twin Shadow.
Ambos no dia 14 de Julho, só muda o palco. Os Australianos Tame Impala apresentar-se-ão no Palco Optimus e Twin Shadow, que já passou pelo Music Box, irá tocar no Palco Heineken.  A confirmação foi dada via facebook.
À medida que o tempo passa o cartaz vai ficando com uma forma deliciosa.

Eis os confirmados até agora:

Dia 14 de Julho
  • Kings Of Leon
  • Tame Impala
  • Twin Shadow
  • Of Monsters And Men
  • Alt-J
  • Phoenix
Dia 12 de Julho
  • Green Day
  • Two Door Cinema Club
Dia 13 de Julho
  • Depeche Mode
O bilhete diário custa 53 euros e o bilhete para os três dias custa 105 euros.



Crítica a disco: Girl On Fire

Alicia Keys
Girl On Fire
2012


Da maneira que o disco começa, com a faixa «Novo Adaggio», especulamos uma Alicia de volta ao piano e com umas velas por cima. Mas se calhar ela pregou-nos uma partida. Uma mulher que acabou de casar, grava um álbum cheio de toques femininos e maternais e chama-lhe... Girl On Fire.


Este álbum tem uma divisão de facto muito lógica. As primeiras seis músicas (sem contar com a introdução,«De Novo Adaggio») têm um cariz mais Pop, mais fácil de passar na rádio.
O resto das sete canções é o que eu oiço do álbum. Simplesmente porque são canções diferentes e que mostra realmente o trabalho de uma artista que há muito tem provado desde o seu primeiro trabalho Songs in A minor. Conta com inúmeros produtores e artistas convidados como a rapper Nicky Minaj, o produtor de hip hop Dr.DRE, Emeli Sandé, Bruno Mars ou até Frank Ocean.

 Os singles radiofónicos são o « New Day« e claro «Girl On Fire», música que dá nome ao álbum.

Começando com uma batida muito presente, «Girl On Fire» não mais do que é uma música para passar na Trace ou na Comercial.
O único dueto de frisar é com Maxwell e é uma das minhas preferidas,«Fire We Make».
«Tears Always Win» é tão fácil de ouvir que os quatro minutos parecem dois. Entre berros e sirenes, realmente as lágrimas ganham sempre. Mas as lágrimas nem sempre ganham quando se ouve «Thats When I Knew», dá vontade de dedicar a alguém... ou de cantar antes do padre dizer:"Declaro-vos marido e mulher".

Com a ajuda de Frank Ocean chegamos a «One Thing». Todas estas faixas me fazem relembrar um passado, por algum motivo que eu não sei. Oiçam.

Como qualquer trabalho deve ser coeso mas «Limitedless» no meio de baladas pré-casamento não resulta. Resulta se ouvirmos numa rádio de música reggae ou dancehall. Com a quantidade de staff que houve para a produção deste disco não me admira nada que cada canção tivesse uma influência diferente, um toque pessoal. Emeli Sandé foi uma artista que me surpreendeu com a sua colaboração em algumas faixas, onde predomina o piano.

 Alicia Keys  afasta-se um bocado do seu registo piano,voz mas ficou um trabalho bonito e ... se calhar não teve tanto tempo para compor ao piano, visto que se casou.

Viajei com o Acaso Até Aqui #12


Chamam-se Boy, mas não são rapazes. Sonja Glass é uma baixista alemã. Valeska Steiner é uma vocalista suíça. Hamburgo é a cidade que as viu nascer como duo em 2007, dois anos depois de se terem conhecido num curso de música pop no Hochscluhe für Musik and Theater Hamburg.  Mutual Friends é o nome do disco de estreia, que atingiu o top 10 na Alemanha, em 2011. 

Naquele ano, conquistaram o Hamburg Musician Prize HANS como revelação do ano; e com o álbum venceram o European Border Breakers Award, prémio que distingue os artistas emergentes com grande sucesso fora do seu país de origem, tendo já sido atribuído a Adele, Lykke Li, Damien Rice ou Mumford and Sons. 


O single de apresentação «Little Numbers» acabou como banda sonora da classe executiva da transportadora área Lufthansa em 2012. «Waitress» é a música que se segue sobre o primeiro trabalho, o qual tem edição norte-americana prevista para o próximo mês de fevereiro. E o Youtube está cheio de coisas destas feitas por elas. Quase em silêncio. Diz-se que são uma especíe de Feist ao quadrado. 


http://www.listentoboy.com/


Reviews: R&B no século XXI


Usher
Here I Stand
2008



O sucessor de Confessions não podia começar de melhor forma. «Forever Young», mostra uma voz nua apenas com o piano por baixo, completamente vulnerável.

 Este álbum tinha uma missão complicada de suportar todos os sucessos de Usher principalmente no Confessions, sucessos como «Yeah»,«Burn» ou « Caught Up». Um disco que se atrasou no lançamento devido à preparação do casamento com Tameka Foster e com o nascimento do seu filho. Pai de Usher morre nesta altura por isso é um disco de acontecimentos marcantes, como o nascimento do filho e a morte do pai, mas nunca deixando o estilo R&B e Pop. A paixão por Tameka era mais que muita. Em grande parte deste disco, as músicas falam de mulheres ou uma mulher.

single chama-se «Love in This Club», e é aquele vídeo em que ele está numa boate e está rodeado de raparigas... Cliché não?

Mas eu sei que é o Usher simplesmente só pela dança nos minutos finais do vídeo. Ele faz um deslize com o pé no chão que eu reconheço em quase todos os vídeos!

Uma das músicas que gosto mais é «What a Man To Do» e «Moving Mountains».
Estamos em 2008 e este estilo musical aproxima-se de uma renovação que irá passar pela electrónica mais acentuada. Não faltam os habituais agudos sentidos dos cantores de R&B e aqueles movimentos gestuais e faciais que estes artistas fazem ao cantar as canções. Vê-se muito em Usher ou R Kelly. Tornou-se característico neste estilo musical a batida lenta e os agudos sofridos!


 Antigamente o R&B era um estilo musical em que se expressava o amor por alguma mulher ou homem. Normalmente era assim. R Kelly, Alicia Keys, Mariah Carey,Bobby V e mais recente Trey Songz. Mas de facto tudo muda quando o mundo gira. O R&B já não é o que era em 2000-2009 mais ao menos.

Rubrica: Música Sazonal #07

Olá, olá!

Está a perder a piada dizer que é segunda-feira e é dia de Música Sazonal, mas factos são factos. Já vamos no número 7 e, caso não saibam, o número 7 é o número da perfeição. Não que a rubrica de hoje vá ser perfeita, mas vamos entrar por este mundo das simbologias e espiritualidades.

Se estás quase a desistir de continuar a ler, não o faças, porque no fim há boa música. Fica a minha palavra!
Nem sempre a nossa vida profissional fazemos o que sonhamos. Muitas vezes acabamos por abraçar outros desafios e fazer coisas também elas bastante interessantes. Adoro escrever sobre música, mas também escrevo sobre muitas outras coisas. Confrontada com um artigo para escrever sobre feng shui e o impacto desta corrente de pensamento em aspectos mais práticos da nossa vida, acabei por ir ler sobre o assunto, porque não sou propriamente uma especialista na matéria. Entre as muitas coisas que descobri, fiquei a saber que 2013 é o ano da serpente de água, ano de grandes decisões, segundo dizem, e ano onde predominam as cores azul, preto e cinzento, para atrair boas energias.

E achei que esta música tinha tudo a ver com isto que estamos a falar. O azul e o preto na capa, as serpentes na selva. Já para não falar de que gosto da música em si. Falo de «Blue Jungle Lights», o novo single da banda portuguesa The Kafkas. Já tive a oportunidade de me cruzar com esta música em outras aventuras radiofónicas, e desde aí que gostei dela e fiquei com o som daquelas teclas na cabeça.
Eis que, em Janeiro de 2013, surge a versão mais produzida, que é a que vos deixo aqui.
É caso para dizer, "welcome to the jungle".
Podem fazer download gratuito da música aqui.


Os The Kafkas são quatro indivíduos, vindos de Lisboa, que se juntaram em 2009 com o intuito de se divertirem um bocado e ver no que davam as suas misturas musicais. Em 2011 decidiram gravar a primeira demo no estúdio eléctrico do Porto. Este single é o seu mais recente lançamento, que já está a dar que falar em alguns blogs de música.
Se gostaram do que ouviram, eles vão andar pelo Bacalhoeiro, em Santa Apolónia, na sexta-feira, passem por lá.

Viajei com o Acaso Até Aqui #11

«Porcupine» é uma música torturante sobre ficar-se apaixonada. Escrevi-a quando iniciei uma nova relação e de repente comecei a ter problemas de confiança a matutarem-me a cabeça. A letra da música é sobre querer que alguém entre na minha  vida, mas que, ao mesmo tempo, mantenha uma certa distância, por causa do meu coração espinhoso”, explica Ruby Frost  sobre um dos sons de 2011. 


De facto, se se traduzir à letra ‘Porcupine’ ou o seu apelido, cedo se percebe que a miúda de 25 anos de Wellington, Nova Zelândia, não é muito dada a afectos ou a coisas subtis. Ela é a Ruby ‘Geada’ e a música chama-se ‘Porco-espinho’. Jane de Jong é o nome verdadeiro da cantora e compositora que em 2009 venceu o concurso nacional ‘MTV 42Unheard’, através do qual conseguiu um contrato com a Universal Music do seu país. 

«Moonlight» foi o single de estreia, lançado na rádio bFM. Permaneceu nos tops radiofónicos durante dez semanas consecutivas no final de 2010, ano no qual viu também a sua canção «O That I Had» (do seu primeiro EP How Long) ganhar uma versão dupstep através do duo neozelandês Mt Eden. Depois, venceu o Grande Prémio Pop no concurso John Lennon Songwriting Contest com «Hazy», e com a mesma música arrecandou o terceiro lugar no Top 40 na versão internacional daquele evento.


O primeiro álbum chegou em 2012, tendo sido disponilizado no iTunes em todo o mundo. «Water To Ice» e «Young» foram as montras de apresentação de Volition, que  atingiu  a 24ª posição dos tops oficiais da Nova Zelândia. Vinha acompanhado por pequenas histórias escritas por Ruby. Diz que queria transformar o disco num musical ou numa peça que contasse a viagem pela qual ela passou enquanto escrevia o disco. 

As transformações são evidentes, nem que sejam apenas pela cor de cabelo: castanho, loiro, arosado. O pop e o electro de Ruby estão agora oficialmente espalhadas na Austrália com o lançamento do trabalho naquele país. Faz lembrar uma Roisin Murphy mais maneirinha e tem uma Elly Jackson ou uma Clare Maguire nas cordas vocais. Está a preparar-se para ser uma das juradas do programa televisivo de talentos, X-Factor, na Nova Zelândia, ao lado de Stan Walker, Daniel Bedingfiled e Melanie Blatt (ex-All Saints).

http://rubyfrost.com/
http://www.last.fm/music/Ruby+Frost 

Rubrica: Designer Precisa-se! #8

O quadragésimo primeiro dia

Agora que o Natal passou e que nos preparamos para enfrentar um novo ano, assumo que já sinto a falta das noites quentes e dos longos dias do verão. É verdade, a estação que tanto nos aquece o corpo e a alma já começa a deixar saudades.Afinal quem é que não gosta dos três meses que nos arrastam para as praias do litoral ou para os refrescantes campos do interior? Julgo que ninguém.

De facto esta estação do ano surge em muitas representações musicais, não só pela ligação desta estação do ano com os ritmos latinos e africanos, mas também porque o sol é por si só uma fonte de alegria e vida cuja os povos sempre celebraram ao longo dos tempos através da música. É certo que em alguns locais do globo terrestre o verão é muito diferente do aquele que nos habituamos ver, mas ainda assim é celebrado.  Razão pela qual os Sum 41 tenham escolhido o nome da banda para celebrar o último dia do, curto, verão canadiano, em 1996. Conta-se que banda de pop punk terá desenvolvido um diminutivo da expressão  "41 days into the Summer", usada no Canadá para descrever a sua "quarentena veraneante".


Still Waiting, um dos singles mais aclamados da banda canadiana.

Apesar de curiosa, esta história não tem livrado a banda de Deryck Whibley de criticas pesadas dos media. A banda já foi enumeras vezes considerada uma das piores da década de 2000, o que contrasta com os discos de Platina e de Ouro conquistados no Canadá e nos Estados Unidos, assim como com os milhões de fãs conquistados no Japão. O culminar do sucesso é atingido em 2005 com a conquista de fãs no velho continente a ser acompanhada pelo galardão de melhor banda rock do ano, nos canadianos "Juno Awards", com o álbum Chuck.

Nada disto podia ter sido alcançado sem dois discos que viriam a marcar a história de qualquer teenager do novo milénio. Antes de mais o alvo do "Designer" desta quarta-feira: o EP Half Hour of Power (2000), que não só foi o primeiro registo da banda como ainda influenciou muito o sucessor All Killer No Filler (2001). Mas vamos por partes.


A capa do primeiro EP dos Sum 41. Uma das mais hilariantes e despropositadas de sempre.
Em 2000, quando optaram por assinar com a Island Records, os Sum 41 lançaram o seu primeiro EP. Descomprometido, violento "q.b", com a genica do punk, os refrões do pop e a "leveza dos 16". Eram estes os ingredientes que figuravam os 11 temas, de um dos maiores EP's que já tive a oportunidade de observar. Aliás não sei se faz muito sentido chamar-lhe EP, mas talvez tenha sido uma forma da banda iniciar o seu caminho na industria musical sem correr grandes riscos. Dúvidas à parte Half Hour of Power é para mim um autêntico tubo de ensaio para o que viria a acontecer um ano depois com All Killer No Filler, álbum onde a banda se afirmou com os marcantes temas: «In too Deep» e «Fat Lip» ou a autobiográfica « Summer». 

É verdade que a história do punk tem para nos oferecer capas gritantes, berrantes e estranhas para os mais distraídos, mas esta não pôde "escapar". Half Hour of Power pode até lembrar-nos dos tempos do American Pie e das típicas acções despropositadas da adolescência,  mas ainda assim não consigo compreender o porquê daquele rapaz surgir numa capa de um EP, em roupa interior, com uma boina militar na cabeça. Para culminar, é claro, aquilo que parece ser um cruzamento entre um utensílio qualquer do "Doraemon" (personagem principal de uma série de anime japonês) e uma típica bisnaga, réplica de uma arma de fogo real. Já para não falar do mar de chamas que circunda este autentico "cromo", que conferem à capa o aspecto de um qualquer filme de acção dos anos 80, com a participação de Arnold Schwarzenegger.    Em suma esta "sleeve" é uma verdadeira "salada russa" de elementos sem nexo e que unidos se tornam hilariantes. De todo o modo o lettering é ajustado ao do logótipo da banda e talvez o elemento mais normal em toda esta estranha composição.



Deixo-vos com os vídeos de «Summer», do EP: Half Hou of Power (2000) e «In Too Deep», do álbum All Killer No Filler (2001):

 «Summer» ao vivo no Readding Festival em 2002


Videoclip de «In to Deep» o single mais aclamado da banda canadiana de pop/punk



E se a música deles também fosse made in Camões?

"Como vi dançar no Zimbabué/Quero também contigo gingar/Uma dança nova/Mistura de Semba com Samba/De Mambo com Rumba/Tua mão da minha/E a minha na tua". A letra de 'Balancê', música retirada do álbum homónimo de Sara Tavares de 2005, faria ainda vez mais sentido se tivesse aparecido nos anos 90. O vaivém das gentes e dos ritmos começou com o 'Nadar' dos Black Company ou com o 'Dançar no Huambo' dos Kussondolola, e o fenómeno ou o processo mais que natural continou com Sam The Kid a samplar Carlos do Carmo ou com os Buraka Som Sistema a pegar num kuduro de Luanda.
Se o fado nasceu de uma mistura de africanidade e de outros sons vindos da terra de Vera Cruz, as mornas de Celina Pereira pouco se afastam de uma Mariza em «Meu Fado Meu». Se o Duo Ouro Negro, nos anos 60, foi pioneiro na mistura de músicas do mundo com semba, folk, samba e outros ritmos tradicionais numa só faixa, Caetano Veloso foi o responsável pelo movimento Tropicália, com Chico Buarque a reboque e Carlos Paredes na guitarra portuguesa, com «Verdes Anos».
Mas se as influências do que antigamente se fazia na música portuguesa ou na música lusfónona (para evitar constrangimentos ou definições deficitárias) estão nas opressões criadas por ditaduras dos anos 60 ou por movimentos libertadores posteriores, já a tocar nos anos 80, representadas por José Afonso com 'Milho Verde' ou por um revivalismo de uns Heróis do Mar e de António Variações, hoje as coisas não têm uma figura muito diferente.
Depois dos pioneiros Tito Paris, Danny Silva ou o incontornável Barceló de Carvalho (vulgo Bonga), em Angola, o hip-hop continua a ser uma forma de música de intervenção, assim como o kuduro o é em estado puro, não sendo sequer um estilo de música. Ao lado ocidente (diga-se, europeu), este chegou sem este lado combativo urbano e foi encarado como um ritmo, de forma muito simples como esta definição, capaz de moldar a música lusófona e aquilo que ela é capaz de incorporar.
Com descargas pelo mundo inteiro, atravessando o dubstep, o rap, o reggae, nos anos 90, a música lusófona passou a ser uma música de intervenção. Os Kussondolola faziam desaparecer a postura monopolista do pop-rock de Rui Veloso, GNR ou Xutos e Pontapés, abrindo espaço para que Cool Hipnoise e Mind Da Gap saíssem dos seus subúrbios e entrassem em listas de favoritos ou em Top+.
"Adoro quando te deixas levar assim/Fechas os olhos e danças só para mim/Uma dança tua/Mistura de não vem que não tem/Com um sorriso porém que me diz que o teu desdém/É só a manhã de alguém/que diz que vai mas que vem/Me engana que eu gosto". Mas a letra de Sara Tavares continua a querer dizer-nos que a influência entre os continentes lusófonos ainda não é tão livre quanto pode parecer. A própria Sara tem a holandesa World Connection como sua editora, assim como a sua amiga Mariza – uma das artistas portuguesas (nascida em Moçambique) mais bem conceituadas do mundo – que também é representada pela britânica Universal Music. Em poucas palavras, não se aposta verdadeiramente em música interna em Portugal. São os outros que precisam de fazer o nosso trabalho de casa. Carlos do Carmo diz que continuamos complexados. Que os efeitos de uma era colonial ainda não desapareceram e que, até que assim seja, a música vai ser o que é: cheia de Melo D, Pac Man, António Zambujos ou Orelha Negra, mais ou menos reconhecidos, seja lá de onde for que vem a inspiração. Ou de um Bob Marley de Nile Mille ou de um Seu Jorge, do Rio de Janeiro.
No entretanto, a história repete-se. O som português de hoje é um som de protesto pelo ontem e revolução pelo amanhã. Os antigos dizem que a música de África é muito boa, mas é um regresso ao passado. Mas as novas gerações começam a deixar de sentir isso da mesma forma. E a Sara continua a ter razão. Quem acredita que a música portuguesa não se balança, então é melhor nem tentar perceber se gosta do que ouve dela. No mundo inteiro. "Balancê ye/Balança ya/ Swing para lá/Swing para cá ye/Swing no pé/Senão chega p´ra lá ye"


Do estranhar ao entranhar


O nosso Portugal está cheio de culturas, ou devo dizer influências africanas, brasileiras ou até indianas. Mas por enquanto a referência mais forte irá ser as culturas das ex-colónias portuguesas. Tal "espírito" de colónias que ainda perdura um pouco no nosso país no que toca à musica.

 A minha ideia é que todas as músicas em crioulo, seja de cabo-verde ou angola ou mesmo da Guiné, o povo português tem pouca capacidade de receber esses dialectos. Essa forma de falar dos ditos PALOP ainda gera muita insatisfação por inúmeras razões: muitas pessoas são nacionalistas (definição certa  para uns, uma simples palavra para outro) e não concordam com o acolhimento de pessoas dos PALOP,há que referir, por isso desprezam também a sua arte, a música. Se for uma pessoa que venha da Europa  é certamente,para estes cépticos nacionalistas, um povo mais civilizado e mais culto. Outra razão para não se goste desta música é porque normalmente quando se pensa em crioulo pensa-se em rap. E com rap crioulo as pessoas pensam em miúdos que andam por aí a roubar, a fumar, a beber e não sabem falar. Eles sabem falar o dialecto deles, nós é que não percebemos. Uma cultura tem coisas boas e más,obviamente. Adiante.

Uma das coisas que devemos fazer é respeitar a cultura de cada um. Não importa que seja preto ou branco. Uma pessoa pode ser ter nascido em Portugal mas ter outra cultura, por se identificar mais com outro ambiente. Este acolhimento de culturas é isso mesmo. Há inúmeras culturas em Portugal para explorar onde há coisas bonitas. Eu por exemplo, vivo sempre no Cacém e absorvi a música e algumas práticas da cultura angolana e cabo-verdiana. Gosto bastante. Não só de rap crioulo mas como Semba e Morna. Dançar ou não saber dançar estes ritmos quentes... "um quebra-pernas".

Tentar perceber a mensagem da música feita por pessoas que cresceram e viveram noutros ambientes senão o nosso, nem toda a gente o faz. No caso do crioulo angolano ou cabo-verdiano que é o que eu oiço todos os dias, aprende-se cara a cara e não pelo tradutor do google. Eu consigo perceber certas palavras, é como aprender "uma língua nova" como foi com o inglês por exemplo.

Neste momento a música brasileira é uma das minha preferidas. O preconceito de não gostar de uma arte pela pessoa que a faz "já passou de moda ". Não tem cabimento.

Acredito que a maior revolução vai ser quando percebemos que a fusão de culturas é um passo gigantesco que não será dado nem hoje nem amanhã. O Fado,o Semba de Angola, querem mais?."Primeiro estranha-se e depois entranha-se". O lema é simples.


Lusofonia: Um encontro de identidades


Falar de lusofonia não é só falar sobre nós, povo português, mas também sobre quem fala e sente o português. A musica lusófona é a musica cantada por todos aqueles que dominam a língua portuguesa, e têm gosto em o fazer.
A musica cantada em português é e continuará a ser explorada até ao mais ínfimo pormenor, vão sendo acrescentadas ideias, novos ritmos, novas paixões. Musica em Angola, musica em Cabo Verde, toda ela expressa em português vale o que vale.
Os artistas de países africanos introduzem nos seus estilos musicais a língua portuguesa, sem nunca descurar dos ritmos próprios das suas vivências. Os seus ritmos e melodias são facilmente colocados numa panela e misturados com os cantares e dizeres do povo português, e é daí que sai uma espécie de nova melodia.
A música lusófona é, conforme já referi, e achando uma ideia importante, ainda um mundo em constante desenvolvimento, é certo, pois cada dia vão surgindo novos ritmos, novas formas de se fazer boa música, esta cantada em bom português.
Fala-se de saudade, da convivência. Canta-se e expressa-se o bom português em forma de Reggae, Hip Hop, Kuduru, Samba, e outras coisas mais. Simplificando, somos uma comunidade unida, que trabalha no mesmo sentido: o de levar a música cantada em português além-fronteiras. E parece que estamos a ter sucesso nesta jornada musical.

Rubrica: Música Sazonal #06

Olá, olá!
Hoje é segunda-feira e sejam bem-vindos a mais uma música sazonal. Não nos lemos desde o fim do mundo, é verdade, uma vergonha. Deixo aqui as minhas desculpas pelo abandono repentino, mas a verdade é que as férias conduzem ao desleixo. Seja como for, estamos de volta.

Ano Novo, vida nova, costuma-se dizer. Não sei quanto a vocês, mas eu cá não sou grande fã da passagem de ano e das grandes festas. Como tal, também não faço resoluções de ano novo. Primeiro porque tenho uma memória terrível, não me iria lembrar de nenhuma resolução, e, mesmo, que as escrevesse de certeza perderia o papel logo nos primeiros dias. Segundo,  porque não percebo o conceito das resoluções de ano novo. Porquê fazer uma lista de coisas que estão mal e que vamos querer mudar no próximo ano? Porque não mudá-las no momento? Porquê a espera? Já para não falar que a maioria das pessoas não cumpre inteiramente as resoluções que faz.

A música que vos trago esta semana é a «Vagabond» dos Wolfmother, uma das minhas músicas preferidas, uma música que resume a minha opinião quanto a isto das resoluções. Simplicidade, felicidade, liberdade, são das melhores coisas que podemos ter e esperar dos novos anos. Tudo o resto vamos fazendo pelo caminho, digamos assim.


Os Wolfmother são uma banda australiana formada em 2000. Lançaram o primeiro EP em 2003, mas foi em 2005, com o seu álbum homónimo que chegaram até ao público. Muitas faixas deste álbum  foram utilizadas como banda sonora de videojogos e filmes. Atuaram o ano passado no festival Marés Vivas TMN.

Um feliz ano novo para todos vocês e até para a semana.

Viajei com o Acaso Até Aqui #10

A primeira descoberta aconteceu com os irmãos. Depois, só com ela. Julia Stone completa o duo australiano Angus & Julia Stone que desde 2005 agitam o mundo do folk e do blues. Os pais, também músicos e professores de música, criaram uma cultura familiar peculiar. Ela juntou-se à banda da escola. Em ocasiões festivas lá por casa, Catherina – a irmã mais velha – tocava saxofone, Julia o trompete e Angus ocupava-se do trombone. Quando o liceu terminou, Julia despertou para a genialidade do irmão. Diz que ele escrevia letras brilhantes, ele mostrou-lhe como se tocava guitarra na Bolívia e mesmo assim ainda actuavam separados, mas usavam a voz de cada um como coro.

Corria o ano de 2005 e seu caminho parecia fazer cada vez mais sentido juntos. Um ano depois o duo formalizou-se e o primeiro EP Chocolate and Cigarettes foi lançado em Março. Cinco anos depois, The Memory Machine era a primeira montra da Julia, agora sozinha. O trabalho foi integrado no top 100 ARIA. Fez um cover de «You're the One That I Want» e este serviu para identificar o canal de televisão britânico e irlandês, Sky. Entrou depois para os tops dos iTunes no Reino Unido. Fez parte da campanha 30 Músicas/30Dias, promovida em Setembro de 2012, com esta mensagem 'Transformar a Opressão em Oportunidade para as Mulheres em todo o Mundo'.

Os manos-duo ainda regressaram em 2010 com Down The Way - o álbum australiano mais vendido naquele ano - mas Julia seguiria o seu currículo com um segundo registo, By The Horns (2012). Nele, estavam as faixas «It's All Okay» e «I'm Here, I'm Not Here». Tem 28 anos. É uma Joan Baez sem um vintage forçado ou uma Lou Rhodes sem um passado electrónico. O irmão dá-lhe uma projecção diferente, mas a solidão artística fica-lhe tão bem.
 
 
http://www.lastfm.com.br/music/Julia+Stone
 

Lusofonia - um elo no tempo e no espaço


Cada ser humano é único, produto de combinações de genes diferentes. Assim é a música de cada país. Produto das mais variadas influências, culturas, sons e ainda elementos físicos. A música é uma ferramenta de comunicação, tal como a fala ou os gestos e é através dela que se expressam sensações, que se descreve o que nos rodeia ou até que falamos sobre o quotidiano. Se o folk dos Estados Unidos fala de comboios e do trabalho no campo, o fado de Portugal fala do mar, das partidas, das chegadas e da saudade. Mesmo os instrumentais têm as suas particularidades.

Mas tal como a música americana não se resume ao folk, a música portuguesa também não se resume ao fado. Mais não seja porque o povo português é um povo viajante, um povo conquistador. Quisémos descobrir o mundo e foi o que fizémos. Navegámos por “mares nunca antes navegados”, mais recentemente, acolhemos os que apreciaram a nossa hospitalidade e deixámos partir aqueles que ambicionavam uma vida melhor. Mantivémos tradições e adoptámos novos hábitos. Quer no passado, quer no presente, o contacto com novas civilizações mudou a nossa maneira de viver e a nossa visão do mundo.
As colónias que conquistámos e libertámos passaram para nós um legado e uma herança que não podemos ignorar. As nossas raízes e origens não se limitam ao território que vem desde o Minho até ao Algarve. A presença de Portugal no Brasil e em África trouxe influências vincadas para a música que se faz nos dias de hoje. A língua portuguesa, ainda que tenha as suas diferenças nos três locais, em conjunto com a conviviência histórica, é o que nos une. Uma língua comum que se expressa em sonoridades bem diferentes.

Nos anos 70, artistas como Zeca Afonso e Fausto tentaram fazer a fusão de todas estas influências, mas foram precisos 20 anos para que esta relação entre Portugal, África e o Brasil se tornasse sólida e forte. O rap, o hip-hop, o reggae, o funk e o kuduro “de Portugal” fizeram a ponte entre estes três territórios e contribuiram para que as barreiras viessem a desvanecer gradualmente.

Existem portugueses espalhados um pouco por todo o mundo e existe um pouco de todo o mundo dentro deste nosso Portugal. A música lusófona é um pequeno grande mundo a ser explorado, é parte da nossa história, da nossa cultura e da nossa identidade.