Capicua
Optimus Discos
7/10
Naquele que é um meio predominado por
homens, rimas agressivas, e o chamado ego-trippin',
Capicua é como abrir uma janela num ambiente fechado e abafado.
O nome da artista é o mesmo do álbum,
mas ela também responde por Ana Fernandes, nascida no Porto, cidade
invicta. É doutorada em geografia urbana e pós-doutorada em
agricultura urbana. Teve uma infância feliz, muito distante das
infâncias que vemos surgir no mundo do hip-hop português. Ana não
é a única mulher a fazer rap em Portugal, mas é das poucas a
conseguir alguma notoriedade no meio - é a excepção à regra.
Apesar de este ser o seu primeiro álbum, lançado pela Optimus
Discos em fevereiro de 2012, Capicua conta com dois EP's e uma
mixtape a solo.
Os beats que aqui ouvimos, por detrás
de rimas bem construídas e limpas, também elas longe do que
costumamos ouvir, são de grandes nomes do hip-hop português: D-One,
Ruas, Sam the Kid, Xeg ou Nelassassin são algumas das mentes por
detrás dos instrumentais que ouvimos em Capicua.
O álbum como um
todo está bem conseguido, a capa mostra uma capicua, tocando a cauda
à cabeça, e nas músicas fala-se de medos, de sonhos, da vida e do
modo como a vivemos.
«Medo do Medo» é
a minha escolha neste Cd, e a minha sugestão. Fala do medo que as
pessoas têm de tudo, medo do medo, medo de ficarmos quietos e medo
de lutar por alguma cosia melhor. É uma biografia da artista, mas
também podia ser a biografia de um país que parece ter desistido,
enquanto Capicua vai alertando para o nosso modo de vida, sugerindo
até uma «Terapia de Grupo» para Portugal. Um álbum que podia ser
um guia para sairmos do sitio onde estamos, para não pararmos nunca
de sonhar. De sonhos é o que fala a música «Casa de Campo» de
sonhos modestos, humildes, sonhos que todos temos, uma família feliz
numa casa de campo, onde possamos aproveitar de forma calma a vida
que decidimos levar. «Judas e Dalilas» fala do que as pessoas se
tornaram hoje em dia, os homens em Judas, traindo sempre que for em
seu proveito, numa ambição que hoje é desmedida na nossa
sociedade, do culto do “eu” distanciando-se do que devia ser uma
sociedade una. E das Dalilas, das mulheres que não amam ninguém a
não ser o “euro”, onde os seus sonhos se limitam a ter alguém
com dinheiro que as suporte.
As mensagens que
Capicua oferece são subtis, subtis por serem as mesmas que ouvimos
nos outros rappers, mas ditas de forma limpa e sem agressividade na
forma. Podemos falar de pop / rap? Talvez com este Cd de Capicua, que
pode ser perfeitamente ouvido por qualquer idade, ou não tivesse ela
crescido ao som de Zéca Afonso.
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