Um osso vaidoso e um Lucas «exagerado»


Osso Vaidoso no CCB ( Foto: Rita Sousa Vieira - Sapo "On the Hop")

Mais uma noite de Misty Fest, desta feita no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), na companhia de Osso Vaidoso e de Lucas Bora-Bora que tentaram aquecer o público, que, molhado pela chuva, assistiu a dois concertos de uma hora, cada, no conforto das cadeiras almofadadas da sala Lisboeta.

De apelido paradisíaco, Lucas Bora-Bora foi o primeiro a pisar o palco na noite de quinta-feira e quis, desde cedo, celebrar o primeiro aniversário do seu primeiro EP Não há crianças em Las Vegas, tocando o single, e provavelmente o único tema conhecido para a maioria dos presentes, «Deus na Rádio». A celebração parecia até estar a correr-lhe bem, mas cedo os samplers oriundos de dois portáteis, e que substituíam um baterista humano, começaram a denotar falhas técnicas e principalmente a “engolir” o som dos outros instrumentos. «Peço desculpa pelas pausas mas é preciso accionar o “playback”», justificava o músico nos momentos mortos criados.

A plateia parecia ter gostado do ambiente “molecular” de «Pós Humanos» e da POP em estado “puro” de «Demasiadas Coisas» e «Beatriz», onde Lucas se fez acompanhar apenas por uma guitarra acústica. A meio do concerto a atenção dos presentes estava agora completamente centrada nos elementos cénicos que iam surgindo no ecrã atrás dos músicos. Afinal de contas ninguém ficou indiferente aos rostos de mulheres com expressões faciais pouco ortodoxas, ou trocando por miúdos, as “caretas” que iam provocando pequenas gargalhadas abafadas pelo respeito aos músicos. «Oh meu Deus! Que caras», exclamava discretamente uma das presentes na plateia.

Até ao final Lucas ainda provou que de facto «Não há crianças em Las Vegas». Tocou ainda «Exagerado» tema original de Cazuza, cantor brasileiro que Lucas considerou um «Herói». «Vou fazer o meu melhor para interpretar bem a canção», confessou o músico, que provou aqui as fortes influências com a sonoridade POP da década de 80. Lucas saiu de palco e, sem explicação aparente, não voltou para o encore que, supostamente, constava na Set List oficial com a repetição de «Deus na Rádio».

Um novo álbum à porta

No intervalo o público aproveitou para relembrar o quanto chuvosa estava a noite abandonando, massivamente, o pequeno auditório com o objectivo de voltar, poucos minutos depois, e ver subir ao palco os Osso Vaidoso. Ao fim de contas Ana Deus e Alexandre Soares são músicos já bem conhecidos do público português, não só pela passagem de ambos pelos, já extintos, “Três Tristes Tigres”, mas também pela passagem de Alexandre pela formação original dos portuenses "GNR".

A dupla deu um concerto com pouco mais do que uma hora e deambulou entre os temas do álbum-estreia Animal (2010) e novos temas que surgirão num próximo trabalho. «Estamos num fase em que vamos experimentando ao vivo coisas que estamos a compor e gravar em estúdio. Por mim o ideal era lançar o novo álbum entre Janeiro e Fevereiro, mas acredito mais no mês de Fevereiro». Avançou Alexandre no “bar dos artistas” do CCB após o concerto no pequeno auditório.

Para o músico portuense este foi um concerto «diferente» por força do formato, em auditório, que inibe muito mais o público. «Demos tudo o que temos em palco, e quanto a mim acho que correu bem, mesmo sabendo que o público sentado reage de uma forma muito diferente daquele que encontramos noutra qualquer sala ou mesmo nos concertos ao ar livre». Acrescentou o co-autor de temas como “Poligamia”, “Animal”, “Prematura” e ”Matematicamente” que marcaram a primeira metade do concerto. Alinhadas, correspondentemente, fabricaram na sala uma atmosfera densa, envolvente, burlesca e teatral, responsável pela união “triangular” entre o Homem, a guitarra e a poesia.

De facto “Animal”, para além de se tratar do single homónimo do álbum de estreia, é ao mesmo tempo um ótimo cartão-de-visita para a dimensão poética dos Osso Vaidoso, canibal, rastejante e alérgica aos parasitas “deste mundo”. Mas essa dimensão não é um produto exclusivo da banda natural da “invicta”, visto que Valter Hugo Mãe e Regina Guimarães, filhos da mesma cidade, marcam presença nas palavras que Ana Deus vai “esmiuçando” a cada segundo.

Os momentos da noite foram protagonizados por “Elogio da Pobreza”, mordaz, odiosa e critica, “Fado”, música que, segundo Ana Deus, é tão «nova que nem nome tem» e que nos trás a “magia” dos três acordes do património imaterial da humanidade (fado) e ainda tributo a Velvet Underground, com uma adaptação do tema “Venus in Furs” da banda nova-iorquina.

Mas a noite não podia terminar sem que após 11 temas, que deixaram a vocalista «toda torta» e «farta da própria voz», surgissem dois encores. No primeiro destaque para a visita a um «Portugal pequenino». No segundo, um momento de genialidade na guitarra de Alexandre que na contagiante “Cola Cola” se multiplicou através do looping e que de forma “sinistra” ia explorando a voz madura e com uma enorme elasticidade de Ana. Uma despedida com o segundo single de Animais a entoar em cada «BABY» invocado na letra.

É certo que, a nível visual, o concerto não acrescentou muito à experiência sonora do álbum, mas talvez esta dinâmica minimalista, muito ligada aos gestos dos dois corpos em palco, seja a “cena” dos Osso Vaidoso, e quanto a isso resta-nos ver o próximo concerto e confirmar a tendência. 



Clique nas imagens e faça o Download do álbum-estreia dos Osso Vaidoso e do Primeiro EP de Lucas Bora-Bora:

                                       



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