Rubrica: Designer Precisa-se! #3

Pantera "cor de rosa"

Nesta edição do “Designer precisa-se!” procurei manter-me na década de 80, visto que para além do Hard Rock, que caracterizou essa época, “encontrei” outra corrente que veio a vingar de forma tão clamorosa que não a podia deixar cair no esquecimento: o "Glam".

Inspirado no aspecto e comportamento excêntrico de David Bowie, e no polémico apelo visual de Alice Coper , este novo género viveu o seu auge entre os anos 70 e o inicio da década de 80, vindo a vingar através de bandas como os Kiss, os Poison e os Bon Jovi. Glamour, raça, atitude, rímel e cabelos compridos, tudo conjugado num só género musical. No Glam a cor, o sexo, e o Rock n’ roll eram palavras de ordem e muitos músicos adotaram rapidamente este estilo de vida que, obviamente mais tarde ou mais cedo, se viria a notar nas composições, mas principalmente nas atuações ao vivo e nas capas dos álbuns.

Entre as bandas “afetadas” à posteriori surgiram, curiosamente, os Pantera, banda de Groove Metal, conhecida essencialmente por êxitos como Cowboys from hell, álbum que data de 1990 e que nos apresenta uma banda de riff’s trash e letras simples, marcantes e incisivas. Mas nem sempre foi assim, pois o título de 1990, que de resto protagonizou o maior sucesso de vendas dos norte-americanos, foi o 5º álbum da banda natural do Texas, e sucedeu a álbuns como I am the Night (1985) e Projects in the jungle (1984), marcadamente menos “pesados”.

O primeiro trabalho da banda remonta a 1981, época na qual o vocalista ainda não era Phil Anselmo mas sim Terry Glaze, um autêntico propulsor do glam no mundo do metal que foi “convencendo” os restantes elementos a viver a “cena glitter”. Ao ouvir Metal Magic notam-se grandes diferenças entre "estes Pantera" e aqueles a que a maioria possa estar habituada. Apesar das características “arrancadas” prodigiosas do icónico guitarrista Dimebag, a garra impressa nas vocalizações e nas letras era, na época, visivelmente menor e o “Groove” praticamente engolido pela sonoridade Hard Rock. Tínhamos portanto, na época, não uma Pantera negra, como a partir dos anos 90, mas uma “Pantera cor de rosa”.

Metal Magic foi produzido por The Eldn', pai dos irmãos Darrell ( Dimebag e Vinnie Paul).

Pior do que imaginar os quatro elementos dos Pantera em “collants” e fatos cintilantes foi mesmo ver a capa com que apresentaram o primeiro trabalho ao público. Numa escala de 1 a 5, dar-lhe-ia um 2,5 sem qualquer espaço para arredondamentos, visto que o choque foi tão grande que na época precisei de me sentar. Compreendo que as capas de Far Beyond Driven (1994) e de The Great Southern TrendKill (1996) não sejam um exemplo a seguir e que a capa de Projects in the jungle (1984) seja muito pior e praticamente ininterpretável, mas é ainda mais verdade que “não existe desamor como o primeiro”, e a capa de Metal Magic torna-se um alvo fácil por ter sido a primeira.

Onde é que já se viu uma espécie de pantera branca com orelhas de gato, juba de leão e corpo de um lutador greco-romano? Espero que em nenhum sítio pois, caso contrário, estaríamos realmente diante do final do mundo tal como o conhecemos. Quem sabe, os nossos antepassados Maias tenham mesmo visto um destes Felídeos mutantes e pensado o mesmo. Teorias apocalípticas à parte, este estranho animal acaba por me levantar sérias questões, entre elas, o porquê de alguém que não tem calças,e que não é, aparentemente, um pugilista precisar de um cinto e ainda o porquê de ter uma arma branca que consegue, em simultâneo, ter um cabo de uma espada samurai e um arpão de pesca submarina.

Num dia em que se celebram os 125 anos de Amadeo de Souza-Cardoso, pergunto o que pensaria o, há muito falecido, pintor português destes rabiscos de mau gosto. É óbvio que Souza-Cardoso não viveu tempo suficiente para ver tal barbárie do mundo do design, mas se visse, tenho a impressão que no mínimo iria "torcer o nariz". Já eu, que só viria a nascer 10 anos depois do lançamento do álbum, tenho hoje a oportunidade de afirmar que nem o lettering se aproveita, mas que, ainda assim, é o que de melhor a capa pode proporcionar e talvez tenha sido esse o elemento que me levou a pensar dar-lhe 2,5 numa suposta avaliação. 

Felizmente para os fãs dos “novos” Pantera, e para os fãs de boas "sleeves", Phil Anselmo veio a substituir Glaze em 1988 para a gravação de “Power Metal”, álbum que marca a viragem musical, visual e conceptual da banda até ao seu fim. 


Recorde aqui o single homónimo de Metal Magic e vejas as diferenças para «Cowboys from Hell» single que deu o nome ao 5º álbum da banda natural do Texas:







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