Capitão Ortense e o Hard Rock Rising: a hangover depois da vitória

Chegaram à final da Hard Rock Rising'2013 entre nove concorrentes. O protocolo pedia que fossem os últimos das três bandas a actuarem no pequeno palco do Hard Rock Café, em Lisboa, no passado dia 25 de Março. O facto parece ter funcionado a favor deles. Saíram vencedores da battle, que os colocou como adversários de Dark Waters, de S. Pedro do Sul, e Caelum's Edge, do Barreiro.

Já passava da meia-noite quando o jurí se mostrou pronto para anunciar o resultado da votação. Com uma diferença ténue em relação ao segundo classificado (Caelum's Edge), os Capitão Ortense fizeram jus ao nome. Em entrevista ao Off The Record, João Catarino, vocalista, confessou que nem queria acreditar no que ouviu: "Entre todo o nervosismo e tensão reunidos na hora decisiva, foi algo chocante ouvir da boca de João Pedro Pais o nome da nossa banda. Foi uma mistura de euforia com perplexidade".

Rui M. Leal  . facebook/hardrockcafelisboa
A disputa pela vitória contra o metal profundo de Dark Waters (banda liderada por Sérgio Lucas, vencedor da segunda edição do programa de talentos, Ídolos, em 2004), e do inaugural space rock - género definido pelos próprios músicos da Margem Sul - inspirado nas magnitudes de U2 ou de 30 Seconds to Mars, os Capitão Ortense sabiam onde estavam metidos. "Nunca pusemos de parte a hipótese de poder ganhar, mas a concorrência era forte, o jogo estava aberto e tudo podia acontecer", explicou João.

A decisão tomada pelo painel de jurados - Arte Sonora, Everything is New, João Pedro Pais, MTV Portugal e Rádio Comercial - valeu-lhes uma entrada directa para o Palco Heineken no próximo Optimus Alive. João chama-lhe "um sonho tornado realidade", e acrescenta que o facto de irem fazer parte do cartaz do festival é "a recompensa do trabalho e dedicação" da banda. O jovem de 20 anos, estudante de Direito, reconheceu ainda a importância das próximas mudanças: "Temos noção que este concurso alterou por completo o nosso percurso, cainda na incerteza do que irá acontecer daqui para a frente."

Apesar da qualidade do som pouco perfeita daquela sala emblemática, os Capitão Ortense beneficiaram da voz clara de João - mesmo concorrendo contra uns Caellum's Edge apetrechados de sintetizadores, sons adicionados ao live act a fazer lembrar ecos de estádios cheios e de uma plateia treinada para o final do mini-concerto, ou contra uns Dark Waters poderosíssimos e confiantes na postura quase animalesca de Lucas. Apresentaram-se com um rock popizado maistream, mas com pontas de inteligência muito criativas e com a certeza de que sabem mesmo bem mexer nas guitarras, que parecem tocar desde miúdos.

A média de idades não é uma dor de cabeça. O baterista chama-se Pedro Costa, tem 20 anos e é estudante de Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa. Ricardo Mendes, também com 20 anos, estuda Engenharia do Som no Instituto Superior Autónomo de Estudos Polítécnicos (IPA) e ocupa-se da guitarra ritmo. E Pedro Gonçalves é colega do Ricardo no IPA, mas é mais novo um ano e é quem manda no baixo.

Os quatro conheceram-se no Centro de Estudos de Fátima, tocaram juntos na escola e eis que resolveram formar a banda há cerca de dois anos e meio. O nome 'Capitão Ortense' "surgiu de uma conversa improvável entre dois amigos músicos que tentavam juntar nomes para bandas simplesmente por brincandeira". A brincadeira ficou séria e foi a junção estranha dos nomes que os fascinou. João diz que houve "vontade de permanecer com [a escolha] para ver se as pessoas aceitavam bem". "Até hoje já ouvi um bocado de tudo em relação ao nome, normalmente de espanto por não se perceber o seu significado aparente", contou ao Off The Record.

E, talvez por causa do à vontade entre eles, a preparação para o evento não fugiu muito da normalidade. João esclarece que fizeram ensaios períódicos como até então tinham realizado, mas agora de uma "maneira mais organizada e profissional". Afinal já andavam com o Hard Rock Rising debaixo de olho há algum tempo: "A ideia [de participação] surgiu já na edição anterior, na qual não conseguimos participar porque a banda estavam em alteração dos membros". No entanto, "o sentimento perdurou até este ano. Fizemos tudo para vingar a oportunidade", contou João.

E o facto de cantarem em português parece ter sido outro ponto a favor naquela noite, já que acabaram por se tornaram na primeira banda a vencer o concurso sem ter que recorrer a línguas estrangeiras. João é quem se encarrega da escrita das letras, as quais são posteriormente analisadas por todos. O objectivo é simples. É para que "soe como todos querem e para que faça sentido dentro dos nossos objectivos", afirmou.  Diz que o processo criativo é diferente de música para música e que tem, regra geral, uma "ideia primária" pensada por ele. 

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Não são estreantes nas actuações ao vivo. O ano passado estiveram no Festival do Avante e a memória só lhes traz boas recordações: "Foi dos momentos de banda mais felizes que tivemos antes da noite de segunda-feira. Foi uma oportunidade gratificante e única. Esperamos lá voltar um dia", recorda João. Ainda assim, o líder do grupo explica que as coisas eram diferentes até ao último ano:"O facto de sermos de longe dificultava a nossa visibilidade, mas desde que estamos todos a viver em Lisboa, o aparecimento começou a ser mais regular. É mais fácil chegar ao públlico que não nos conhece".

A questão da visibilidade vai também ganhar outros contornos. A vitória dos Capitão Ortense nesta competição coloca-os ainda numa órbita ainda maior.  Vão ser sujeitos a uma nova apreciação: podem ser escolhidos para figurar nas dez melhores bandas da plataforma internacional do formato, das quais será ainda escolhido o top três por parte de profissionais da indústria da música.  Se tudo lhes correr bem podem vir a actuar no festival anual Hard Rock Calling, que este ano acontecerá no Parque Olímpico Rainha Isabel, em Londres.

«Falsa Melancolia» é o tema com o qual se andam a apresentar. O título da música, directo e perceptível como eles, espelha aquilo que são.  Quando lhe perguntámos qual é o maior sonho da banda, o músico foi, ao mesmo tempo, prudente e emotivo: "Os sonhos vão sendo construídos à medida que vamos crescendo. Temos ambição de tocar em grandes palcos, mas nada se compara à ambição de fazer para sempre parte do grupo em que estamos, e que a relação que temos não se sinta nunca afectada". São bons miúdos, com as ideias a fervilhar e com muito pouco espaço para ficarem enclausuradas.

Em nome da banda, João definiu, por fim, a vontade que têm em serem uns verdadeiros artesãos do som: "Além de uma simples denominação de capacidades, o facto de reconhecerem a nossa humildade em querer trabalhar com música todos os dias é o melhor elogio que se pode ouvir".

 
 

O regresso depois do regresso


The Strokes
Comedown Machine
2013
RCA Records

7/10

Um dos regressos mais aguardados em 2013: Os The Strokes voltam com o quinto álbum. Comedown Machine junta músicas que sobraram do antecessor Angles e músicas novas, num alinhamento que nos deixa a pensar se dois anos não faziam a diferença no fim do hiato dos Strokes desde First Impressions of Earth, de 2006.

A capa despida e monocromática do álbum deixa adivinhar uma simplicidade ou até humildade no que toca à construção deste disco. E o que se ouve na primeira faixa, «Tap Out», são uns The Strokes fora da zona de conforto, que saíram da sombra dos primeiros álbuns e tomaram a liberdade de fazer novas experiências. O factor inovação é muito refrescante e o acto de experimentar traz consigo uma espécie de diversão inerente que se materializa na forma de faixas como «80s Comedown Machine», «Partners in crime» ou «Call it fate, call it karma».

O single de avanço, «One Way Trigger», que apanhou muitos fãs de surpresa, segue esta onda mais electrónica de synth pop muito presente no álbum como todo. Mas não se assustem, os nova iorquinos não se esqueceram dos mais saudosistas e deixam como presente «All the time» e «50/50», temas que reúnem as características de rock de garagem que tão familiarmente lhes atribuímos.

Comedown Machine é um álbum que quebra a monotonia e traz a mudança que os The Strokes precisavam. É um álbum de transição e de exploração de uma sonoridade diferente, que, apesar de ser uma lufada de ar fresco no trabalho da banda, ainda precisa de ser aperfeiçoada. São uns Strokes que ainda não soam inteiramente a Strokes. É um álbum que aguça a curiosidade face ao que virá depois. Comedown Machine é o regresso que Angles deveria ter sido.

Jessie Ware, Discloure e AlunaGeorge no Optimus Alive

Depois de confirmação da presença de Vampire Weekend no palco Heineken no próximo dia 12 Julho, chegou a vez de saber outras boas-novas sobre o Optimus Alive'13,  mas agora no palco Optimus Clubbing.

A nova edição do festival do Passeio Marítimo de Algés vai receber a britânica Jessie Ware, preparada para apresentar o seu disco de estreia Devotion, após a experiência como vocals de SBTRKT (que também actuaram no certame português do ano passado); Disclosure, o duo de irmãos electrónicos do Reino Unido e amigos de Jessie, Guy and Howard Lawrence, que trazem na bagagem o EP The Face e o amplamente rodado «Latch», com voz de Sam Smith;  os londrinos Aluna Francis (na voz) e George Reid (na produção), que formam por aglutinação AlunaGeorge; Gold Panda vem com o fresco EP Trust debaixo do braço e Redlight (ou Hugh Pescod), que vai protagonizar o garage e o funk de Bristol, formam o lote das principais atracções.

Dusky, Huxley, Shadow Child, Mosca e Two Inch Punch completam aquele palco na sexta-feira, dia em que Green Day é cabeça-de-cartaz.

Recorde-se que os nova-iorquinos, confirmados ontem para o palco Heineken, juntam-se a Death From Above 1979, Edward Sharpe and the Magnetic, Dead Combo e Japandroids. Aquela banda de rock alternativo vai centrar a sua performance no novo disco Modern Vampires of the City, do qual já foram extraídos «Diane Young» e «Step».

Orelha Negra levam amigos ao Sudoeste

facebook/orelhanegra
Os Orelha Negra vão ter um concerto especial. A raridade acontecerá na Herdade da Casa Branca, na Zambujeira do Mar, no próximo dia 11 de Agosto, e o motivo é o festival Meo Sudoeste.

A actuação do quinteto terá como convidados vocais Adamastor, Carlos 'Pac' Nobre (ex-Da Weasel), Orlando Santos, Regula, Valete e Mónica Ferraz (ex-líder de Mesa que empresta a voz no mais recente single «Heartbreaker», nova versão de «Throwback»). A impressão de novas roupagens aos instrumentais estará a cargo da West European Symphony Orchestra (WESO), compostas por músicos que já passaram pela Orquestra Gulbenkian, Sinfonietta de Lisboa, Orquestra Sinfónica Portuguesa e Orquestras da Madeira e do Algarve. Para o fim, estará ainda reservado um simbólico regresso de Sam The Kid ao seu papel de MC.

Recorde-se que os Orelha Negra regressaram já em 2013 com a edição de Mixtape II, dois anos após o lançamento da primeira. Aquela conta com versões do músico de Detroit, Amp Fiddler; e os também norte-americanos, Georgia Anne Muldrow e Peter Hadar.

A 17ª edição do festival Meo Sudoeste acontece entre os dias 7 e 11 de Agosto e os bilhetes custam entre 48 e 95 euros.

Conheça o cartaz até ao momento:
Dia 8 | SOJA, Richie Campbell
Dia 9 | Fatboy Slim, Donavon Frankenreiter
Dia 10 | Calvin Harris, Cee Lo Green, Expensive Soul
Dia 11 | Snoop Lion, Solange, DJ Ride
Dia a anunciar | Capleton

Dengaz, Orlando Santos, Dub Inc e Rebelution no Sumol Summer Fest

Depois de, na semana passada, os nova-iorquinos Easy Star All-Stars e G. Love - projecto a solo do músico de Filadélfia e sem Special Sauce - terem ido confirmados no cartaz do Sumol Summer Fest, agora chegou a vez dos portugueses Dengaz e Orlando Santos, dos californianos Rebelution e dos franceses Dub Inc.

Dengaz subirá aos palcos do Festival da Ericeira no dia 28 de Junho, altura para tocar ao vivo temas como «From The Heart» ou «Eu Consigo», extraídos do seu álbum de estreia Skill, Respeito & Humildade. Já os outros três conjuntos de músicos fará a sua actuação no evento no dia seguinte.

Para Orlando Santos - nome associado a outros projectos de hip-hop, funk, groove ou jazz, como os Cool Hipnoise, Kika Santos ou Orelha Negra - o Sumol Summer Fest será um dos primeiros cenários a ver e ouvir as músicas do seu projecto em nome próprio, cujo álbum de apresentação, versado numa mistura de rock, soul e reggae, tem o título My Soul.

Seguem-se os Rebelution, que na mesma onda de estilos de Orlando, vêm a Portugal espalhar as suas mensagens de esperança e optimismo, constantes nos já quatro álbuns editados. E de Saint-Étienne chegará o som dos Dub Inc., feito de rap, dub, dancehall, outros sons da Jamaica e de outros mundos africanos, versando de forma intercalada entre o árabe, francês e inglês.

Os bilhetes do festival custam entre 45 e 60 euros. Morgan Heritage, Tarrus Riley, Mellow Mood (28 de Junho) e Alborosie (29 de Junho) são os restantes nomes do cartaz de 2013. 

A 5ª edição do evento terá ainda o dia 27 reservado à festa de boas-vindas aos seus visitantes. A definição da 'Welcome Party' ainda não foi divulgada.

Viajei com o Acaso Até Aqui #21

Por trás do cabeçilha, está um colectivo oriundo de Toronto. Ou então talvez seja ao contrário: primeiro há que contar a hitória do produtor Slakah, the Beatchild (o miúdo dos beats ou o beat acriançado); e depois alargar as vistas para o resto dos convidados. O canadiano não é um novato e, muito menos, é um estreante à procura de um protagonismo repentino à custa dos outros, ao juntá-los todos em The Slakadeliqs.

Slakah - também responsável pelos produtos do rapper D.O. (aka Defy the Odds); por «Sunglasses», de Divine Brown, escrito por Nelly Furtado e editado no álbum The Love Chronicles (2008); pelo dueto de Miles Jones, detentor da editora Mojo Records & Publishing, com Shad em «Say What» e ainda pela ascenção de Drake e outras trilhas como «Enjoy Ya Self» e «Between Us» - esteve durante quatro anos em ajustes, repensamentos e escrita voluntária. O resultado é o som fresco de The Other Side of Tomorrow (2012) que se fez, ainda assim e assim, muito por culpa alheia.



Além dos temas que se apresentam apenas através de um título, este é um álbum feito de partilhas e para ser ele mesmo ouvido em grupo. "Call me in the morning,call late at night/Call me when you need me it's alright/Tell me what you're thinking I'll understand" de «Call Me Your Friend» não podia exprimir melhor de que é feito o supergrupo canadiano, aqui tendo Sandie Black? como muleta. King Reign e Shad parecem ter Lil Wayne a servir de filtro ou, pelo contrário, de megafone, em «Beneath It All», e Tingsek (que entra em cena em três temas), valoriza «Perfect Night Summer», onde os instrumentos de sopro são reis, e «Love Judge» - também com Ebrahim a figurar no featuring naming - é um dos melhores exemplos a resumir o que Slakah fez aqui.


O 'solo' independente do canadiano é muito recente (tem pouco mais de um ano) e é filho único. Tem um soul light, um reggae refinado, a força de um som acústico vindo de guitarras treinadas para isso mesmo, o protagonismo de uma percussão e ainda arranjos a fazer parecer que foi, na íntegra, gravado ao vivo de tão orquestrais que são. O rapper Drake não escondeu a satisfação com o feito do amigo no seu Twitter: "Um dos meus produtores favoritos com os quais já trabalhei acabou de lançar o seu álbum".

Se pensarmos que o tweet apareceu depois de já gozar de uma popularidade empolada por Thank Me Later (2010) e Take Care (2011) e duas mãos cheias de parcerias com Young Jeezy, T.I, André 3000, Rick Ross ou The Weeknd, o caminho para Slakah sempre esteve mais do que desbravado.



Nem tudo acabou em 69


A Fnac do Colombo estava cheia, mais do que alguns concertos, muitos disseram. O lançamento do livro E tudo acabou em 69 sobre os Filarmónica Fraude não deixou cadeiras vazias. O livro, editado pela Guerra e Paz, é uma tentativa de contribuir para a história da música portuguesa, que está muito pouco documentada, e dá a conhecer uma banda que para muitos é uma incógnita, mas que marcou a música que é feita em Portugal no presente. “Cresci a ler jornais e a sensação que tinha era que a história da música portuguesa mudava em 1980. Antes apenas existia fado e música de intervenção”, explica o autor Rui Miguel Abreu, para quem o livro se escreveu praticamente sozinho, fruto de uma série de conversas.

Num ambiente descontraído, entre a família, os amigos e os fãs, os quatro membros presentes recordaram bons momentos. “Não éramos grandes executantes, mas éramos grandes compositores” assume António Pinho, que mais tarde integrou a Banda do Casaco. A capacidade única que tinham para compor levou-os a descobrir as raízes e a aproveitar-se do Portugal rural. “O facto de sermos provincianos e atrasados faz com que tenhamos uma forte tradição oral”, conta Luís Linhares entre risos. “Percebemos isso quando uma vez acampámos num sítio, que tinha um sinal a dizer “No Camping”, mas nós somos portugueses resolvemos lá ficar. Uns alemães juntaram-se a nós e à noite resolvemos tocar canções populares. Nós tocamos a «Ó rama ó que linda rama» e eles a «Hey Jude»”, completa.

O facto de serem de Tomar e provincianos, como se intitulam, fez com que aplicassem o que “importavam” da música lá de fora para a maneira de estar em Portugal. Já o nome surgiu de uma espécie de antagonismo. “Sempre me fez confusão o facto de uma filarmónica ser um conjunto e ser uma palavra no singular, e queria dar a volta a isso. Depois de muitas experiências chegámos ao nome Fraude, que gerou um consenso imediato, uma vez que completa o conceito, destruindo-o simultaneamente.”, explica António Pinho, que se continha, a muito custo, para não revelar as histórias do livro. 

A carreira dos Filarmónica Fraude foi curta. Ao ouvir agora o que fizeram então, reconhecem uma forte ingenuidade e inconsciência, assim como a diferença nas condições de antes e agora. Tal como muitos grupos da altura viram a sua sentença ser ditada pelo serviço militar obrigatório.

Mas nem tudo acabou em 69. Ficaram as histórias, as memórias, as peripécias, as gargalhadas e as saudades. Uma juventude de outros tempos agora relatada num livro que “não é só a nossa música, é a nossa época”, como viria a afirmar Luís Linhares mais à frente. Para acompanhar o livro, os Filarmónica Fraude gravaram um EP, no qual fizeram uso da tecnologia para aperfeiçoar a música de sempre.

Viajei com o Acaso Até Aqui #20

Vamos contar a história de cada um. Miguel Peixoto é o baterista e é o Mike Peixoto. Os seus pés já estiveram ao lado de outros em palco: Júlio Pereira, Lumem, Outwithanew e The Moss são alguns deles. É uma pessoa do rock, mas acabou no jazz. É formado em Educação Musical, mas já passou pela Escola de Jazz da sua cidade. Nasceu em 1979 e na sua lista de músicas também estão coisas indefinidas como músicas do mundo ou, outras também descoordenadas, como o funk.

Mais novo (tem 27 anos), está o André Sebastião nas teclas. É o André Sebastian que é um verdadeiro entendido da coisa. Já estudou piano, história da música e tem formação musical. É um diamante em bruto. E também é da cidade Invicta.

Rui Gomes ocupa-se do baixo e do contra-baixo. De intenções mais pompousas, apresenta-se como Rui Materazzi. Anda nisto há mais 25 anos e o primeiro instrumento nas suas mãos foi uma guitarra clássica. Veio ao mundo no dia da Revolução dos Cravos, mas em 1982.

Já Santo Tirso viu nasceu Daniel Alves. Foi um puto esperto. Começou a aprender sozinho como tocar guitarra. Seguiu-se a escrita do que queria dizer. Fez parte do projecto Above the Blue Carpet e agora emprestou o seu nome a este quarteto: Dan Riverman.



As semelhanças com Eddie Vedder começam na voz e terminam no cabelo e, outra vez, na voz. De corte aparado - e longe do ondulado desalinhado do líder dos Pearl Jam - Dan Riverman tem, ainda assim, algo em comum com o músico norte-americano. A idade menos avançada (30 anos contra os 48 de Eddie), e o exagerado-esforço-artíficio nas cordas vocais, que lhe fica bem.  De propósito e para evitar comparações, apresenta-se com um rosto a condizer e de barba certinha. De rouquidão com mais personalidade do que ele próprio, Dan obriga-nos a fazer viagens com ele e com as suas músicas. «Sea and the Breeze», «To Live a Dream» e «Lady Luck» são alguns pontos de partida.

Nos entretantos, volta a cruzar-se com Eddie nas letras, quando aquelas músicas espelham amores que precisam de ser corrompidos ou de perdões que nunca chegam a sê-lo. A página oficial de Facebook do grupo adianta que Cousteau, Davey Ray Moor, John Martyn, Morphine são os principais influenciadores da criatividade dos quatro. Ouvir falar pouco deles e do que andam a fazer é o lado negativo disto.


Viajei com o Acaso Até Aqui #19

Andrea Fuentealba Valbak é filha de pai chileno e mãe dinamarquesa. Mas os sons que se ouvem por causa dela têm muito pouco de veia latina ou de outra coisa europeia quando comparada com os suecos ABBA ou os britânicos Muse. Andrea prefere ser conhecida apenas como Medina - nome também ajustado a partir do seu seu alter-ego artístico: Medina Daniela Oona Valbak.

Nasceu em 1982 e, por isso, não conseguiu fugir às danceterias que encheram a sua adolescência. Reproduziu as influências em três álbuns cantados em dinamarquês e outros dois em inglês. Estreou-se em 2007 com Toet pa, mas os discos de platina (atingiu este recorde de vendas três vezes) seriam registados no ano seguinte com o «Kun for mig» e com o segundo disco Velkommen til Medina.  O single foi líder dos tops durante cerca de seis semanas e as músicas seguintes seguiram-lhe os passos.

A internacionalização de Medina aconteceu em 2009 quando decidiu traduzir aquele single para a versão inglesa. Rebaptizou-o e este ganha o novo nome «You and I». É editado com sete novas canções na Alemanha, Aústria e Suíça. Nos tops germânicos conseguiu a nona posição. Voltou às origens com For altid e no ano passado editou um novo trabalho entitulado Forever. Do pingue-pongue de Medina, há coisas escondidas. Entre elas sobressaem  «Jeg Troede», «Perfektion» e «Vinden Vender».



Foi considerada a melhor artista dinamarquesa pela MTV em 2009 e 2011. No entretanto, conquistou seis distinções pelos Danish Music Awards: foi eleita a artista revelação e a compositora e a artista feminina do ano. Apesar de um pop demasiado empolado, Medina tem sabido reescrever-se através de um dupbstep misturado com pontas de chillout. A atrapalhar-lhe o caminho está o nome artístico que escolheu: significa uma das mais sagradas cidades islâmicas. À partida é um facto pouco condizente - dizem os islâmitas - com os movimentos dançantes (ou insinuantes) de Andrea, por vezes, em roupas de tamanhos reduzidos.


'EntreTanto', Marco Rodrigues sobe aos palcos

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O Teatro Tivoli, em Lisboa, e a Casa da Música, no Porto, vão ser dois dos próximos palcos de Marco Rodrigues. O fadista, que acaba de lançar o seu novo disco EntreTanto, actua na capital portuguesa no dia 23 de Abril e, no dia seguinte, ruma para o norte do país.

Os espectáculos ao vivo do artista, que começam em Arcos de Valdevez, na Casa da Artes, no dia 22 Março, acontecem depois na Moita, em Santiago do Cacém e em Coimbra. O fecho da mini digressão acontece no Teatro Municipal de Portimão a 18 de Maio. 

Nomes como Custódio Castelo, Inês Pedrosa, Jorge Fernando,  Manuela de Freitas, Luísa Sobral e Tiago Torres da Silva fazem parte das colaborações no trabalho discográfico, produzido por Tiago Machado. 
 
Recorde-se que este é já o terceiro álbum do fadista, nascido em Amarante, depois de Fados da Tristeza Alegre (2006) e Tantas Lisboas (2010).  Foi já distinguido pelo Prémio Amália Rodrigues, um ano depois do seu lançamento oficial, e aos 17 anos foi o vencedor da Grande Noite do Fado, no Coliseu dos Recreios.

Conheça aqui as datas dos próximos concertos e ouça o novo single «Coração Olha O Que Queres»: 

22 Março | Casa das Artes, Arcos de Valdevez
5 Abril | Fórum Cultura JM Figueiredo, Moita
13 Abril | Auditório Chainho, Santiago do Cacém
19 Abril | Conservatório de Música, Coimbra
23 Abril | Teatro Tivoli, Lisboa
24 Abril | Casa da Música (Sala 2), Porto
18 Maio | Teatro Municipal, Portimão


On The Record #2

Laura Mvula, a menina-mulher das acapellas escondidas

Sing To The Moon é um de disco de altos e baixos. Começá-lo com com uma canção de embalar é, desde logo, um tiro no pé. «Like the Morning Dew» é uma canção morna, apesar de falar sobre o orvalho das manhãs: é uma intro que não convida a entrar, que é como quem diz: ouvir o resto. Mas escutá-lo no seu todo não é uma perda de tempo.

«Make Me Lovely» é um bom tema para os amantes de jazz, logo antes de se ouvir o primeiro single do trabalho de Laura Mvula. «Green Garden» está cheio de palmas, de mudanças bruscas, de coreografias dançantes. É um false friend, já que outra coisa parecida só se vai ouvir lá para meio do disco em «That's Alright ». É um bom sonoro para os flashmobs da moda, depois de se ter passado os ouvidos pelo chill out (quase demasiado lento) de «Can't Live With The World», por «Is There Anybody Out There» (no qual as semelhanças com originais da Walt Disney são pura coincidência) ou pela rouquidão de Laura em «Father, Father», que a faz parecer mais velha do que é (tem 26 anos). Antes de terminar tal como começou - com «Lullaby» (tradução fiel de canção de embalar) - Laura guardou o melhor para o fim. «Sing To The Moon» exalta os moldes orquestrais dos seus músicos, bem como a pureza da sua voz. Os instrumentos de sopro e o recurso aos coros ganham força em «Fyling Without You» e em «She» que, de resto, serviu como painel de apresentação do trabalho de Laura através de um EP de título homónimo, revelado em Novembro do ano passado.
 
Formada em composição pelo Birmingham Convervatoire, a britânica Mvula já conquistou o quarto lugar como 'Sound of 2013' pela BBC. Escreveu este disco nos intervalos das aulas como professora secundária substituta. Astuta, enviou duas demos para alguns gigantes da música depois de mudar de emprego: era recepcionista.

Diz-se influenciada pelo soul e R&B dos anos 90, com especial destaque para as Eternal. Facto estranho para quem se apresenta muito mais formatada e com muito menos pop do que aquela banda feminina. As semelhanças com Emeli Sandé podem ser atribuídas pelo corte de cabelo (embora mais radical) ou pela serenidade no olhar. Mvula é uma Sandé assim: com mais classicismo, a mesma classe. E, por agora, menos mediatismo. Falta o tira-teimas daqueles altos e baixos.


Sing To The Moon : RCA Records : 4'Mar'13

1. Like The Moon Dew
2. Make Me Lovely
3. Green Garden
4. Can't Live With Out There
5. Is There Anybody Out There
6. Father, Father
7. That's Alright
8. She
9. I Don't Know What the Weather
10. Sing to the Moon
11. Flying Without You
12  Diamons

Rockabilly: a música e a estética, junções e separações



Origens

O rockabilly foi uma das primeiras formas de rock n’roll que ganhou popularidade nos anos 50. Oriundo do sul da América, caracteriza-se por músicas de rock dançáveis e rápidas. Vai buscar muito ao swing dos anos 20, como também à música country. A própria palavra rockabilly resulta da junção de rock e hillbilly, um nome que nos anos 20 era dado à música dos brancos que trabalhavam no campo (country), por oposição aos race records (rhythm and blues) que eram feitos por negros.

Os Maddox Brothers and Rose foram uma banda hillbilly muito popular na Califórnia, entre 1940 e 1950, composta pelos cinco irmãos Maddox. Os seus ritmos acelerados e letras provocadoras abriram caminho para o que viria a ser o rockabilly. Mas, mais do que a música, foi a técnica slap-back, utilizada por Fred Maddox no contrabaixo, que consiste em bater nas cordas em vez de tocá-las individualmente, que acabou não só por ser adaptada para o rockabilly, como por ser uma das imagens de marca das bandas do género.

Carl Perkins foi outro dos pioneiros do género. A Perkins Brothers Band começou por tocar em pequenos bares do Tennessee. O público queria ouvir músicas hillbilly, que eram tocadas a um ritmo frenético. E, ao ver a reacção que esta mudança causava na multidão, Perkins começou a escrever músicas para o efeito, concentrando-se no ritmo e indo buscar influências ao blues e ao country.

As editoras rejeitaram este “novo estilo de country acelerado” que não se integrava na música comercial da época. Mas, tudo mudou em 1954, com a música «Rock around the clock» de Bill Haley and the Comets, que foi um dos singles mais vendidos da história e que foi utilizado como banda sonora para vários filmes da época.

Elvis Presley e Wanda Jackson, duas lendas da música rock, também ajudaram este novo género a ganhar popularidade. “Na altura chamávamos-lhe Elvis’s kind of music. Em 1955, a maioria das músicas country falava sobre as dificuldades e a vida adulta. O rockabilly foi uma lufada de ar fresco. A guitarra eléctrica substituiu o violino e a música era sobre batidas fortes e a alegria de ser jovem” explica Wanda numa entrevista ao Wall Street Journal.

A música rockabilly manteve-se popular até aos anos 60, altura em que a “invasão inglesa” e a Motown lhe roubaram o protagonismo. Contudo, voltou em força nos anos 80 com um revivalismo no Reino Unido e com a popularidade alcançada pela banda Stray Cats, mantendo-se viva até aos dias de hoje, ainda que não tão intensamente.

Estética, moda, pin ups e hot rides 



Não foi só a música que passou por um revivalismo, a moda também. Os lenços na cabeça, os batons vermelhos, os casacos de cabedal, os vestidos às bolinhas, ou polka dots como são conhecidos, os calções curtos de cintura subida, as camisas usadas em looks informais, os padrões, as saias-lápis, os camisolões largos e até as calças pretas justas. Hoje em dia, os anos 50 e a sua atitude provocatória estão muito presentes na moda e na forma de vestir. E muitos destes artigos são produzidos pelos grandes estilistas e marcas.

“O termo rockabilly descreve o estilo de vida como o vemos hoje. Nos anos 50 essa palavra não existia. Eram apenas adolescentes a ser adolescentes” explica Kim Casamassima, uma fã do estilo vintage, em entrevista à Collectors Weekly. Tudo começa com os filmes dos anos 50. As personagens principais são sempre adolescentes rebeldes, que chateiam os pais porque ouvem músicas rock barulhentas, conduzem rápido, fumam muito e usam roupas apertadas. Foi nesta altura que a rebeldia e a adolescência começaram a andar de mãos dadas, o que acontece inclusivamente nos dias de hoje.

“O termo tem sido muito banalizado. Hoje em dia tens, de um lado, um grupo que gosta de guiar cadillacs cor-de-rosa, beber um batido ao jantar num drive-in e comprar roupa com padrão de chamas ou cerejas e , do outro, tens um outro grupo que gosta dos carros e da música dos anos 50 e que tenta, de certa forma, voltar atrás no tempo, uma visão muito romântica desta era.”, afirma Kim.

O ideal de mulher nesta altura era uma mulher curvilínea, confiante, provocadora, que usava roupas justas, delineador nos olhos e batom vermelho nos lábios, mantendo uma certa classe. É a chamada pin up. Bettie Page e Marilyn Monroe são os exemplos clássicos e foram modelos para uma geração de raparigas adolescentes da época. Vestidos, saias, camisolas de malha; com padrões, contrastes e cores vivas. E quanto mais justo melhor. O cabelo encaracolado para cima ou então com franja, podendo utilizar um lenço ou até uma flor como adereço. Os homens utilizavam casacos de cabedal, as camisas de flanela aos quadrados e as cuffed jeans, calças que tinham uma dobra no final, e ou as chamadas botas de engenheiro ou uns converse all star. Já o cabelo era penteado de forma a formar uma pequena poupa. Os exemplos são James Dean e Elvis Presley.

Contudo, isto não era apenas moda. Na altura, muitas famílias eram pobres e por isso a roupa era muitas vezes passada entre irmãos. O cabedal era um dos materiais preferidos dada a sua resistência e durabilidade. As calças tinham dobras porque muitas vezes eram grandes demais e as combinações de padrões e cores vivas tinham como base uma tentativa de actualização de estilo, utilizando peças antigas.

Outra das marcas do estilo rockabilly são os carros e motas clássicas. Como já foi referido, muitos destes adolescentes vinham de famílias pobres. Os rapazes muitas vezes começavam cedo a trabalhar, em part-time, depois das aulas, em oficinas de mecânica locais. Daí os carros clássicos que muitas vezes conduziam e daí as roupas resistentes que vestiam.

Hoje em dia o look rockabilly quer-se com exageros de maquilhagem, combinações de padrões estranhos, roupas muito apertadas e a invocar o estilo burlesco e poupas desmesuradamente grandes, que na altura não eram permitidas nas escolas. Assim como as tatuagens, estes foram acrescentos de um novo estilo que surgiu cerca de 30 anos depois: O psychobilly.

Quando o rockabilly e o punk se encontram 



Muitos dos adeptos da moda e da música rockabilly actualmente são, na verdade, adeptos do psychobilly, um estilo que surgiu no final dos anos 70 pela mão dos Meteors no Reino Unido e dos The Cramps nos Estados Unidos. O termo foi inspirado na música «One piece at a time» de Johnny Cash, que fala sobre a construção de um Cadillac. Este novo género junta o rockabilly e o punk. O contrabaixo do rockabilly substitui o baixo eléctrico usado no rock da altura, as letras sobre o melhor da juventude e as batidas fortes são substituídas por letras sobre assuntos taboo como a violência e a sexualidade mais escabrosa, mas também sobre ficção científica e filmes de terror, evitando a política.

Já a estética mantém-se a mesma do rockabilly, mas mais por opção do que necessidade. É comum ver tatuagens e sleeves nos fãs de psychobilly, coisa que nos anos 50 apenas era visível na marinha e no exército. Também é comum ver as mulheres a utilizarem corpetes e cabedal. Já os carros clássicos são substituídos pelas motas e choppers.

O rockabilly/psychobilly é, por isso, um perfeito exemplo de um estilo cuja estética perdura até aos dias de hoje e cujos picos de popularidade nem sempre coincidiram com os da música.

Hip-hop em discussão


28 de Fevereiro, Fnac de Alfragide. Uma noite dedicada ao número 15. 15 anos da Fnac que serviram de mote para passar em revista os últimos 15 anos da cultura hip-hop em Portugal.

Rui Miguel Abreu, jornalista, autor do Rimas e Batidas, um programa de rádio dedicado ao hip-hop maioritariamente nacional mas também internacional juntou-se a NBC e Nuno Serrão, ou DJ Kwan, dos Mundo Complexo, cujas carreiras começaram no final dos anos 90, e também a Vanessa Cardoso, jornalista do site H2tuga, que é considerado o órgão oficioso de divulgação de hip-hop em Portugal, numa conversa sobre o passado, presente e futuro deste género.

O disco RAPública, lançado em 1994, marcou o início desta cultura no nosso país, uma cultura que, no arranque, “trazia a mensagem do outro lado do oceano”, como disse NBC. Estreou-se com os Filhos de um Deus Menor em 1999, grupo cujo único disco entregou em mão a Rui Miguel Abreu no Lux, como ambos recordam.

“Na altura dava-se a cara pelos projectos, isso dava logo uma outra credibilidade, o gesto de olhar a pessoa olhos nos olhos e dizer: aqui está o meu trabalho”. O rapper lamenta que parte desse espírito de luta se tenha perdido e que hoje não se faça um trabalho tão completo no que toca à construção da mensagem que se pretende passar, uma vez que basta mandar as músicas para a net.

A sociedade sofreu mudanças, o hip-hop ultrapassou as vendas da música country e com isso vieram aspectos bons e maus. “O Hip-hop deixou de ser mais ligado ao protesto e à reivindicação e apareceram bandas cuja mensagem era fazer as pessoas abanar o rabo”, explica Nuno Serrão. “Mas depois ao mesmo tempo começámos a ter um programa diário de hip-hop em Portugal e também nomes ligados a esta área nos grandes festivais” . Contudo, o hip-hop falhou em singrar no mainstream, uma questão puramente cultural, já que os portugueses estão muito enraizados no rock e não há muito espaço para uma música que é “muito pesada para o ouvido”.

O hip-hop português já não é regional. Começou em Lisboa, mas, quando foi pedido aos oradores que enumerassem projectos novos que os entusiasmassem, a escolha recaiu sobre os Tribruto, do Algarve, que tem boas letras, bons instrumentais e que sabem fazer uso dos meios visuais existentes hoje em dia.

As inovações tecnológicas trouxeram um hip-hop bem produzido, mas também um hip-hop menos auto-crítico, segundo Rui Miguel Abreu. “Quando se gravava em pistas tinha-se um limite de 16, pelo que era necessário tomar decisões. Mas agora, gravando em computador, o número de pistas é ilimitado”. Os elementos visuais ilustram a música que é feita, mas a sua crescente popularidade tem vindo a inverter as prioridades. “As pessoas antes tinham como propósito gravar o disco e os trocos que sobravam ficavam para o vídeo, mas agora a preocupação é o vídeo”, completa. Já NBC “culpa” a nova cena hipster, em que a imagem vende mais do que a própria música. “Quando fui lançar o meu single na rádio pediram-me para voltar quando tivesse o vídeo”. 

Esta primazia do vídeo acontece porque a internet tem vindo, cada vez mais, a crescer como meio de comunicação. Prova disso são as crescentes visitas ao site do H2tuga, que celebra este ano o seu décimo aniversário. “Os jornais perdem suplementos, as revistas perdem páginas. Há pouco espaço na comunicação social para falar de música, principalmente de hip-hop. Como se não bastasse, as pessoas lêem cada vez mais online” afirma Vanessa Cardoso.

Quanto ao futuro do hip-hop, os quatro acreditam que passa por uma reacção, uma vez que a música tem o poder de mudar o mundo. “Nos últimos tempos voltei a 1999, quando ouvia a «Fight the power» em casa. Foi algo que me mudou e os meus trabalhos vão ser reflexo disso, A música pode de facto mudar o mundo, as pessoas têm é de saber desacorrentar-se” conta NBC, que está prestes a lançar o EP Epidemia. Já para Nuno Serrão, é inevitável pensar em política e reagir, mesmo não sendo um artista de intervenção. “Está na altura de falar menos de amor e mais da realidade”. 
 

Casa da Música recebe Buraka Som Sistema em Abril

facebook/burakasomsistema
Os sons electrónicos estão de volta à Casa da Música, no Porto. No próximo dia 20 de Abril, a cidade Invicta recebe Buraka Som Sistema, Branko, Diamond Bass, DJ Marfox, KKing Kong e Nave Mãe no evento Optimus Clubbing. Os bilhetes do espectáculo da editora Enchufada têm um custo de 12,00 euros. 

O músico lisboeta, KKing Kong, abre as hostes pelas 22h00 no Foyer Sul, onde o DJ Marfox, duas horas mais tarde, apresenta o seu mais recente EP Subliminar.  No Espaço Cibermúsica, estará o disc-jokey Nave Mãe e o produtor português radicado em Londres,  Diamond Bass, que irá mostrar a mistura entre a electrónica e os ritmos africanos.

Os Buraka Som Sistema, como cabeça-de-cartaz, têm actuação prevista para as 22h30 no palco principal da Sala Suggia, na qual serão relembrados temas de Black Diamond e Komba. Branko, o membro-fundador do grupo também conhecido por J-WOW, fechará a noite, que servirá de montra aos novos sons.
 
Durante o próximo mês, deverá ser conhecida a mais recente mixtape de Branko. Já os Buraka Som Sistema encontram-se a preparar um novo EP, ainda sem data de lançamento prevista, que deverá abordar uma junção de sons africanos e os da América Latina.
  

Optimus Clubbing | Casa da Música, Porto | 20 Abril
Foyer Sul
» 22h00 | KKing King
» 00h00 | DJ Marfox

Espaço Cibermúsica:
» 23h00 | Nave Mãe
» 00h30 | Diamon Bass

Sala Suggia (Palco Principal):
» 22h30 | Buraka Som Sistema
» Fecho | Branko

[ÚLTIMA HORA] Randy Blythe considerado inocente

Randy Blythe foi absolvido da acusação de homicídio de um fã num concerto em Praga em 2010 (conforme já noticiado anteriormente).

A sentença foi lida cerca das 12h00 pelo tribunal de Praga, e confirmada imediatamente depois pela ITV. 

Aguarda-se mais informações sobre o que se passou nesta audiência final.

Foto: Metal Hammer

Viajei com o Acaso Até Aqui #18

A confusão com os Wolfgang é muito fácil. Aliás demasiado fácil, quase falaciosa de tão escorregadia que é. A diferença está num espaço entre as duas coisas: o ‘wolf’ e o ‘gang’. Os primeiros nasceram em 1992, nas Filipinas, e são uma banda de heavy metal e hard rock. Foram a única banda com aquela nacionalidade a editar álbuns no Japão e nos EUA. As traduções linguísticas são traiçoeiras e considerá-los um grupo de lobos ou de pessoas cruéis é, talvez, duro demais. O dicionário refere-se ainda a ‘wolf’ como ‘indivíduo insaciável’. Se se aplica aqui? Pode ser. E agora com o tal espaço. 

Falamos de Wolf Gang: Max McElligott, Gavin Slater, James Wood e Lasse Petersen. Há cerca de três meses andavam na estrada com os Keane, na digressão por terras britânicas. Regressados a casa, voltam também aos trabalhos de casa. Preparam o segundo álbum de originais - depois de Suego Faults (2011) - que deverá ainda ser lançado este ano, pela Cherrytree Records. 

A história da banda de rock alternativo começa com a vida de estudante de McElligott. Formava-se em Antrolopogia na London School of Ecnomics quando decidiu parar durante um ano. Queria experimentar a música.  Os instrumentos que aparecem naquele primeiro disco, editado há dois anos, foram todos tocados por ele. Dave Fridmann, produtor de Flaming Lips e MGMT, ajudou a montar as peças soltas. Seguiram-se críticas favoráveis no The Guardian, na Spin Magazine e na Pitchfork. 


Foram descobertos pelo Off naquele lugar encantado chamado Burberry Acoustic. A versão slowmotion de «Back to Back» foi ouvida pela marca e desde logo quis que os Wolf Bang actuassem no Fashion Night Out em Setembro de 2011. Seguiram-se outros desfiles de moda e de vaidades, animados com os seus sonoros, como Emporio Armani e Thom Browne/Harrods.

O ano passado entreteram os amantes de Coldplay nas primeiras partes dos concertos e constaram no cartaz de Coachella, na Califórnia. De resto, já foram banda de abertura de outros espectáculos: Editores, Florence and the Machine, Miike Show, Naked and Famous e The Killers. E no ano passado, em Dublin, Irlanda, no Artur's Day Music Festival tocaram ao lado de Aloe Blacc, Ed Sheeran e Scissor Sisters. 

http://www.wolf-gang.co.uk/
http://www.myspace.com/thisiswolfgang