A história de hoje começa com um copo de moscatel e um típico
almoço de família no qual os meus pais recebiam, em nossa casa, a visita dos meus
tios do Alentejo. Nessa época eu devia ter uns dois ou três anos e a minha mãe
já denotava em mim uma incontrolável curiosidade. Característica que dura, de
forma muito mais “equilibrada”, até hoje.
Tínhamos acabado de almoçar e o meu pai deliciava-se com um
belo moscatel de Setúbal, distrito do qual sou oriundo, à medida que ia
convivendo com as visitas. Tudo parecia correr na normalidade até que o
telefone tocou e ele, pousando o copo na mesa de centro, foi atender. Não sei
quanto tempo demorou o telefonema, mas com toda a certeza o suficiente para eu beber
uns goles, do dourado néctar peninsular, sem que ninguém desse por isso.
Hoje, se o mesmo acontecesse, significariam só uns goles num
largo e pesado copo de vidro, mas naquele tempo significaram, não só uma enorme
dor de cabeça para todos quantos estavam em minha casa, como também uma das
maiores sestas que já tive oportunidade de usufruir em toda a minha vida.
“Curiosamente” estávamos
entre 1993 e 94, altura em que os Nirvana Lançaram In Utero: o último álbum de originais da banda de Seattle antes da
trágica morte de Kurt Cobain. O que definitivamente não me marcou especialmente,
visto que aos dois anos e meio eu tinha outro tipo de preocupações, tais como
brincar, gatinhar ou dormir após beber “vinho generoso”. Acho que mesmo
acidentalmente alcoolizado um bébé nunca gritaria “Rape me, my friend”, como “manda”
a quarta faixa do disco da banda de Grunge.
"Rape Me" um dos maiores sucessos de In Utero, o terceiro e último disco dos Nirvana.
Mas este “vício” de querer descobrir o porquê das coisas e
de querer viver aventuras não viu um fim, antes pelo contrário, aumentou cada
vez mais. Por volta dos cinco - seis anos comecei a “apaixonar-me” por
histórias de detectives, muito por conta do carismático engenhoso “Inspector
Gadget”, ou até mesmo do pouco conhecido “The Great Mouse Detective”, em
português “dublado”: «Basílio: O grande Mestre dos detectives» (aconselho a leitura deste texto). Paixoneta que se foi prolongando, por influência do meu saudoso
avô materno, com o visionamento dos filmes das sagas “007” e “Indiana Jones”,
que me aguçavam cada vez mais a vontade de querer ser um detective quando
fosse “grande”.
Os anos passaram e a realidade começou a soar muito mais “negra”
do que aquilo que eu esperava. Por volta dos nove – dez anos tinha já substituído
o meu “projecto de vida” e passei a querer ser jornalista, visto que aqueles detetives
derramavam demasiado sangue e os jornalistas, também eles curiosos e algo “aventureiros”,
apenas, e de forma metafórica, derramavam tinta. Afinal porquê querer ser um
herói morto quando poderia ser um “herói” vivo nas leituras diárias de um povo?
A infância passou a correr, mas a vontade de querer marcar a
diferença estava agora mais do que nunca a nascer. A adolescência trouxe-me
coisas muito boas. Recordo com saudade a audição entusiasta de Make Yourself (1999) , Morning view(2002), A Crow Left Of The Murder(2004), três dos sete álbuns dos Incubus,
uma banda norte-americana que marcou a minha, ainda curta, história como amante
de música. A intenção, a mensagem das letras, o som das guitarras de
MikeEinziger, o toque “Freestyler” do “Scretcher” Dj Chris Kilmore, a voz elástica de Brandon
Boyd. Tudo corroborava para tornar esta a minha banda favorita, se é que eu
tinha alguma.
"Megalomaniac", um dos temas que mais me marcou desde a primeira audição da banda de Brandon Boyd.
Mas para além das muitas horas que passei a ouvir a música
destes californianos, acabei também por começar, como qualquer adoloscente, a
querer copiá-los visualmente, ou pelo menos, na época, a querer “tirar ideias”.
Foi então que a “googlar” encontrei uma foto em que Brandon Boyd aparecia com
um chapéu muito particular e que me chamou a atenção, não só pelo formato, como
também pela lembrança que me trouxe dos meus tempos de “detective aventureiro”.
É certo que já conhecia aquele tipo de chapéus, visto que a minha bisavó
guardava, religiosamente, alguns acessórios do mesmo género, que teriam sido usados
pelo seu falecido marido. Procurava agora tentar dar um nome a este tipo de
chapéu.
Brandon Boyd. Um "pedaço" da foto que me fez começar a ver os velhos Fedora de uma outra forma.
Acho que só me
preocupei realmente em saber mais sobre este chapéu, quando já estava rendido ao uso do mesmo, visto que só
ao fim da terceira compra é que me deparei com a “minha realidade”. Ao fim ao cabo era,
diariamente, inquirido em relação à sua origem, nome e uso, principalmente por
todos aqueles que insistiam em chamar-me “Jason Mraz”, “TT” ou “Justin
Timberlake”. Três artistas da “cena” Pop, Soul e R&B que também usam chapéus idênticos.
Foi então que descobri que estes acessórios masculinos dão
pelo nome de “Fedora” e que no final de contas o seu nome e o seu fabrico até
têm mais a ver com música do que aquilo que eu, inicialmente, esperava. Para
muitos os também aplidados chapéus “Borsalino”, nasceram no inicio da década de
20 e há quem diga que tenham sido feitos, pela primeira vez, na fábrica “Borsalino”, na Itália. Estima-se que o nome “Fedora” seja anterior a este fabrico e que
esteja ligado ao nome de uma dramática peça de teatro russa escrita em 1882. O peça veio a ser trazida para o sul da Europa através, de uma adaptação para a Ópera, do italiano Umberto
Giordano.
Este tipo de acessório foi tão usado por actores de teatro,
europeus durante as duas primeiras décadas do século, que a partir dos anos 40 se generalizou o sua utilização em Hollywood. Exemplos do uso deste chapéu foram: Frank
Sinattra, Anthony Quinn, Fred Astaire, ou a mítica imagem de Gene Kelly em “Singing in the
Rain” (1952) (Seranta à chuva). Já para não falar de figuras de proa na
História, como Benito Mussolini, Al Capone ou o Papa João XXIII, que vieram a
marcar o uso deste tipo de chapéus até meados do século XX.
Gene Kelly em “Singing in the Rain” (1952)
No mundo da música o maior "embaixador" do Fedora foi Michael Jackson, um dos maiores artistas POP de todos os tempos, para muitos o melhor de sempre. Michael uso-o como ninguém, dando-lhe vida entre os esquemas de dança que o identificam até hoje. No fundo uma figura "imortal" que mereceu destaque no porte deste símbolo da masculinidade no século XX.
Recordemos Michael com os seus Fedora:
Billie Jean ( ao vivo 1983)
Smooth Criminal (1988)
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