Rubrica: Designer Precisa-se! #7

86-59-87

Lembro-me que entre os últimos anos da década de 90 e o princípio do novo século passei a ter televisão por cabo em casa, o que não só me fez deixar a actividade desportiva, trocada nesta altura pelo zapping, como também me mostrou que haveria mais do que quatro canais. É verdade que por esta altura eu era apenas uma criança e para mim ver a MTV significava “aturar” a minha irmã, sete anos mais velha, a dançar ao som de Kelly Minogue e Britney Spears. Tudo bem, eu admito, até gostava de alguns pormenores de ”Cant Get You Out Of My Head”, principalmente do “La La La” inicial. Mas também o que se podia esperar de uma miúdo de 8 ou 10 anos?

A influência teenager da minha irmã não duraria muito tempo, visto que vim a descobrir que a Dance Pop não era de todo a minha “praia”. Na época não tinha muito por onde explorar, visto que os discos de vinil do meu pai estavam à muito “enclausurados” num velho armário. Tudo isto por força de uma avaria, sem arranjo à vista, do gira-discos “trintão” que servia agora como decoração da sala. A minha solução vingou num qualquer Sábado do ano 2000, no qual fui almoçar a casa de uns tios e descobri, entre os cd’s do meu primo, um álbum que veio a marcar a minha infância.

Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water (2000), o terceiro disco de originais dos norte-americanos Limp Bizkit. Uma bomba para os meus pequenos ouvidos que me causou, na época, uma sensação de libertação muito fora do comum. No fundo eu achava-me muito “rebelde” por estar a ouvir aqueles temas repletos de palavrões e distorções poderosas. Este álbum marcou-me tanto que, segundo me lembro, enchi um mealheiro, com moedas de 200, para o comprar, pois era “chato” ter de ir a casa dos meus tios sempre que quisesse ouvir temas como “Rollin”,“My Way” ou My Genneration.


"My Genneration".Um dos maiores êxitos da banda de Fred Durst

De facto é impressionante como uma banda, que a nível técnico nem parecia ser nada interessante, pode influenciar uma geração inteira de “putos” que, como eu, quiseram seguir as “pesadas” do polémico Fred Durst comprando os “míticos” bonés da New York. Acho que nem os próprios Limp Bizkit esperavam atingir este sucesso, após os dois primeiros álbuns que juntos não atingiram o volume de vendas do terceiro disco. Afinal de contas 12 milhões de discos em 33 que a banda vendeu até hoje é um registo muito interessante.

Não concordo, porém, com a maioria dos críticos que vê a capa de Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water como algo inestético. Julgo que é, de resto a melhor capa da banda natural da Flórida, que apenas peca pelo lettering desinteressante. Para más capas, estes senhores do Nu Metal já estão muito bem servidos com Gold Cobra (2011), álbum que recupera a história da banda e que “reconquista” alguns fãs ofendidos com Results May Vary (2003) e o seu single, cover ,“Behind Blue Eyes”. Mas hoje decidi “pegar” na que para mim é a mais desinteressante capa, da banda do excêntrico Wes Borland.

The Dollar Bill, Yall$ (1997), é o nome do primeiro álbum da banda formada em Jacksonville, e marca não só um mau início para os Limp Bizkit, como também um novo marco para a história do metal. Esta relação pode até parecer desconexa, mas a verdade é que em 97, e após a saída do disco, a Billboard 200 qualificou o disco com uma nota muito fraca, factor algo prejudicial para uma banda que dava aqui os seus primeiros paços no mercado discográfico. No entanto a “louca” participação da banda no, importante, festival Ozzyfest, no qual montou em palco um wc gigante, fez com que a lista de melhores álbuns permeasse os Limp Bizkit com o 22º segundo lugar.

The Dollar Bill, Yall$, o primeiro álbum dos Limp Bizkit, que contou com 2 milhões de cópias vendidas.

É certo que em 97 era raro ver uma banda de Metal com um Dj/ Scratcher, um baixista de Funk e um estranho vocalista, que balanceava entre o gutural e o Rapp, mas esta fusão homogénea de estilos urbanos, partilhada com bandas como os Korn, veio a influenciar o trabalho de muitas outras bandas, tais como os Linkin Park ou os Slipknot, que vieram a figurar autênticos êxitos na “década zero” do século XXI. De interesse quase “histórico” é o facto da banda, neste primeiro álbum, ter chegado com maior facilidade ao grande público através de um cover de George Michael. “Faith” apresentam de forma muito directa a relação que o Nu Metal tem com o Hip Hop, visto que em ambos os géneros a memória é um instrumento crucial para a criação de música “nova”.

Podíamos ainda falar de “Counterfeit”, o primeiro single do disco, que apresenta as intenções da banda de forma muito sucinta, ou até mesmo da forma como a banda participou na banda sonora do filme Very Bad Things (1998). Mas a verdade é que este “modelo” apesar de apresentar um “86-59-87” está muito mal vestido, ou seja, o disco pode até apresentar bons predicados mas a capa não está a altura.


"Counterfeit", o primeiro single do álbum estreia da banda norte-americana. Um dos temas responsável pelo convite que os Korn fizeram a Fred Durst para gravar uma "battle" em "All in The Family".

Quando olho para a capa de The Dollar Bill, Yall$ lembro-me, imediatamente, do meu 2º e 3º ciclo escolar e dos cadernos dos meus colegas mais “rufias”. O que neste caso não teria que ser necessariamente negativo, isto se os meus colegas fossem óptimos designers, o que não era o caso. O “dread” que surge no lado esquerdo da imagem é mesmo o melhor que esta capa tem para dar, não só pela forma que depois vem a marcar as capas seguintes, mas porque mostra a identidade da banda através das linhas carregadas, aparentemente desconexas e “rabiscadas”. Prova disso é a utilização deste mesmo elemento masculino, marcadamente urbano, na capa do segundo álbum. No entanto o lettering usado, em jeito de tag, torna imperceptível o nome do disco e quanto ao tipo de letra usado para “desenhar” o nome da banda só posso dizer que é “fraquinho”.

Em defesa da banda só posso mesmo acrescentar que o facto da pior capa de um carreira ser a logo a primeira, revela que a banda ainda estava, muito provavelmente, a procurar uma identidade visual e sobretudo os meios necessários para apostar na qualidade dos grafismos agregados ao disco. O que definitivamente “enterra” por completo a capa do novo disco. Mas nem tudo na vida são capas e aposto que esta temática não tem tirado muitas horas de sono aos músicos do “Sunshine State”.


Deixo-vos com a versão dos Limp Bizkit do tema "Faith" de George Michael:
(ver o original aqui)


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