Crítica ao álbum de Sir Scratch


Sir Scratch
Em Nosso Nome
Footmovin; 2012

Nota: 6,5/10 

Sir Scratch está de regresso com o seu segundo álbum de originais, desta feita, Em Nosso Nome. Lançado em novembro deste ano, o álbum demonstra um Sir Scratch numa atitude ofensiva, reclamando aquilo que considera seu legado, como mc da velha escola: um hip hop sem ostentação e com foco principal nos princípios que defende no tema «Pishback». É através de uma introdução forte, assente num instrumental de Ruas, que o rapper da Amadora relembra o seu legado transversal às participações em mixtapes como a do DJ Cruzfader e Bomberjack, e na compilação 1100% do Pensamento, do DJ 30 Paus, ainda na altura assinando como Plunasmo – grupo do qual fazia parte lado a lado com o seu irmão KapOne.

Mais do que nunca, Sir Scratch aposta numa forte componente participativa, onde convida, não só outros mcs, mas também músicos completamente fora do panorama do hip hop, conseguindo, assim, trazer alguma multiplicidade musical ao seu álbum. São exemplos disso, canções como «Por Medo», onde Tim (Xutos e Pontapés) contribui com a sua voz na parte do refrão, e «Males, Mares e Marés», que conta com a participação de Noiserv, numa alusão marítima que flutua sobre uma base construída por DJ Scotch. Mas, não são apenas músicos que contribuem para a diversidade deste trabalho de Scratch, na canção «Se Tás Nisto Por Desporto», o mc convidou o comentador da Sport TV Carlos Barroca para dar voz a um paralelismo entre uma competição desportiva e o tema, pondo à prova o skill e o potencial vocal do artista. E é mesmo esse skill uma das suas principais armas, como já fora outrora comprovado em canções como «Nada a Perder» do álbum Cinema: Entre o Coração e o Realismo e «Manias» da compilação Poesia Urbana Vol.1. Scratch não poupa em circunstância quando quer usar e abusar do seu flow e dos seus jogos de palavras, que habitualmente transportam um duplo sentido na mensagem. Exemplo disso, neste álbum, é o tema «Faz Parte», no qual o rapper realça quem faz parte do movimento e despreza quem não se enquadra na ideologia e na atitude pretendida.

Ainda em torno da mesma temática, Scratch reforça, na faixa «Tendências», a luta contra quem anda no hip hop por moda, recorrendo, metaforicamente, ao duelo clássico entre o rato e o gato, no qual os gatos são personificados como os manda chuvas do movimento e os ratos como os intrusos. Luanda Cozetti, da banda brasileira Couple Coffee, coopera em «Capoeira», tema no qual o artista compara a sua luta interior à dança brasileira em questão. O som mais sentimental «Fragmentos» abre para «A Crise», tema no qual Sam The Kid contribui com a parte vocal e instrumental e que junta Sir Scratch a Kalaf (Buraka Som Sistema) e ao vocalista de Klepth, Diogo Dias. Já em «Criatividade», o rapper fala da impossibilidade de se manter neutro para com as suas influências e assume transparecer nas rimas e no flow alguma dessa preponderância.

A nível instrumental, esperava-se que a variedade de produtores, presentes no álbum, trouxesse uma maior diversidade sonora, no entanto, fica a ideia que alguns beats podiam ter sido explorados de forma mais criativa. É uma exceção à regra o tema «Quem Tudo Quer», que para além da complexidade conseguida por João Gomes (teclas), João Cabrita (Saxofone) e Francisco Rebelo (Baixo), ainda conta com a colaboração de Dino no refrão. Talvez seja a canção mais interessante e mais rica de todo álbum, que acaba com um belo poema na voz da dramaturga Ingrid Fortez.

Apesar das 17 faixas, mais duas de bónus, poderem induzir em erro, ao ponto de pensarmos estar perante um álbum longo e enfadonho, a verdade é que Em Nosso Nome torna-se um registo de audição leve que depressa flui faixa-a-faixa com alguma variedade temática, sempre acompanhado do bom desempenho lírico de Sir Scratch. Um bom trabalho a merecer uma boa nota.




  

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