"Acho que não somos Rock FM, isso está garantido!"

O seu top três de álbuns internacionais consiste em Grizzly Bear, Beachwood Sparks e Father John Misty. No que toca ao panorama português, fala de Walter Benjamin e Norberto Lobo. O último CD que comprou teve origem no crowdfunding e pertence a Laurelin Kruse. Não gosta de música electrónica, e defende que as redes sociais são uma ajuda para conhecer nova música, se bem que existe uma oferta imensa para descobrir, o que pode ser chato. Esta é Francisca Cortesão, mais conhecida artisticamente como Minta, que veio dia 29 de Novembro conversar connosco sobre o novo disco da sua banda, Minta and the Brook Trout, intitulado Olympia.

Começou a sua experiência com bandas aos 13 anos, e nessa tenra idade não ouvia o mesmo tipo de música que agora produz. "A minha grande influência musical era a minha irmã; ouvia tudo o que ela ouvia, Nirvana, Smashing Pumpkins… Foi mais para os 18/19 que comecei a ouvir country, a ouvir folk, de minha livre e espontânea vontade". Recorda que a sua primeira banda era um projecto mais pop-rock e diz que, lentamente, foi percebendo "o que é que gostava de tocar, o que gostava de cantar, o que me soava bem! Tenho vindo a afunilar um bocadinho a música, se calhar o estilo quando comecei era mais écletica". Conta-nos que, quando participa no projecto de outra pessoa, não costuma compôr. "Há alturas em que precisas de ter um bocado de espaço na cabeça para compôr. Se estiver numa altura em qe tenho de aprender repertório de outra pessoa, não componho nessa altura, porque não cabe. De facto, quando componho também tendo a ouvir menos música, sim." Ao ser comparada com Leslie Feist, diz, entre risos, que ainda não chegou a esse nível. "Quem me dera, não me importo nada de ser comparada a pessoas melhores do que eu, fico contente! Vamos trabalhando para isso, vamos ver o que ando a fazer daqui a 10 anos."
     O seu percurso pela música começou com um projecto a solo, mas rapidamente Franscisca começou a procurar elementos para formar uma banda. "Primeiro, o Manuel Dordio,  com quem eu  comecei a tocar por acaso. (…) Na mesma altura, começámos a tocar com a Mariana, e quando gravámos o disco, resolvemos chamar-nos The Brook Trout, porque sim. Quando o disco saiu, entrou para a banda o Nuno Pessoa. Estamos juntos desde então, e eu estou super feliz", explica, com um sorriso. Os quatro membros da banda unem-se no gosto pelos clássicos da Pop e no jazz, já que todos menos Minta o estudaram. "Passamos a vida a mostrar coisas uns aos outros!".  Considera que a formação acadêmica não é necessária para o succeso, mas "não estraga! Quanto tu mais sabes, melhor consegues fazer as coisas. É bom ter o domínio do instrumento que tocas." Falando em estilos musicais, revela não gostar muito da palavra "indie"… "Indie é aquele chapéu meio estranho em que estamos sempre à-vontade…É meio esquisito, porque parece definir mais do que o estilo de música, define quanto é que vende, que tipo de pessoa nos ouve… Somos indie por um lado, somos folk por outro, também não nos interessa particularmente as designações." Desmancha-se em riso "Acho que não somos Rock FM, isso está garantido!" Tocou-se depois nos problemas que podem existir em palco, e qual a melhor maneira de reagir quando teimam em acontecer. "Eu própria lido com isto de maneiras diferentes, sou um bocado dependente da minha disposição. A cena é um bocado equilibrares-te, tentar fazer ajustes; quanto mais vale trabalhas com o que tens, é deixar que o teu ouvido se adapte". Mas também já aconteceu o contrário, conta. "Tivemos a tocar em Faro e estava um som incrível! Isso também te influencia, por um lado positivo. De repente estás a tocar num sitio e o som está óptimo, e ficas de boa disposição".
      O nome artístico não tem nenhum significado. Aprecia romances quase exclusivamente ingleses, e o nome foi retirado de uma obra literária. "Minta veio das páginas de um livro da Virginia Wolf, o nome de uma personagem feminina de que eu gostei." Percebe que o que lê a influencia a certo nível, admitindo que, por vezes, têm ideias baseando-se no que está a ler. Como compositor, revela Laura Veirs, Bill Callahan e Tom Waits como os seus preferidos. "Gosto de letras bem escritas. Às vezes, as pessoas confundem um bocadinho letras com poemas; é importante a musicalidade. É fixe quando ouço uma música sem prestar muita atenção, e de repente ouço a letra… É outro nível de gostar."
O nome manteve-se pois considera que a sua música não é muito "portuguesa", e que o seu nome original não se adequa à música que faz. " A questão é que eu não sei escrever músicas em português, e portanto não as canto. E a música que ouço é mais em inglês do que em português." Diz que, tendo de escolher, manteria o nome Minta explicando que "tem a vantagem de ser mais curto". Isto, conta-nos entre risos, se os jornalistas não sentissem sempre a necessidade de o explicar. "Minta é mais simples, mas ao mesmo tempo mais confuso, porque quando escrevem sobre mim é sempre <<Minta, que é a Francisca Cortesão, que é da banda Minta and the Brook Trout, que era dos Casino…>>." Ainda sobre o assunto de cantar em inglês, surgiu uma pergunta sobre as declarações do Vitorino. " A mim só me chateia que isso ainda seja notícia, porque acho que não é. Ás vezes as coisas são tiradas do contexto; eu li o artigo do jornal de onde aquela frase saiu e não era assim tão grave como parecia; apenas fora do contexto. É uma discussão que eu acho não ter interesse nenhum - se eu gosto de cantar em Inglês e o Vitorino em Português, e há espaço para toda a gente, podemos ser todos felizes. E somos."
Após nos informar de que todos os membros da banda têm empregos, debruçámo-nos sobre o enigma de "viver da música", que a Minta vê com outros olhos: "Há várias maneiras de viver da música. Podes dar aulas de música! Podes tocar em bandas de versões, ter sorte e correr tudo bem e viver apenas da música da tua banda. Eu tenho a sorte de viver da música, mas apenas porque toco com o David (Fonseca), porque senão nem pensar…"     
       Quanto ao novo álbum, Olympia, tem a dizer que este, inspirado um pouco pelas paisagens americanas, tem algumas diferenças comparativamente com o seu primeiro álbum de estúdio, se bem que não muitas. "Eu gosto mais da música e dos arranjos agora, mas acho que não é assim tão diferente. É normal que assim seja, somos as mesmas pessoas a tocar, embora o baterista tenha mudado." A parceria com a Optimus Discos revela-se positiva. "Além de terem uma plataforma que chega a muita gente, dão apoio à gravação e fazem a distribuição do disco". O financiamento proveniente desta parceria deu a oportunidade à banda de gravar num melhor estúdio e acrescentar secções/instrumentos às faixas, o que não seria possível sem o apoio da Optimus. "Falcon", o tema escolhido como single, é "a música mais pop do disco", escolhida a pensar no público. E a música favorita neste álbum? Minta mostrou dificuldades em escolher. "As favoritas vão mudando de semana para semana quase. Ás vezes tens um concerto e há uma música qualquer que tu nem davas muito por ela, e de repente é a tua preferida porque naquele concerto correu muito bem!". Este álbum também consagrou a tentativa de Minta se expôr mais, através das letras. "No Olympia andei a trabalhar mais nas letras, acho que já existe mais humor… Na minha opinião, as letras são melhores agora do que eram há três anos atrás, e espero que continuem a melhorar", diz sorridente.
O trabalho da banda para divulgar o novo álbum tem dado frutos, já que, desde o seu lançamento, têm dado vários concertos, conseguindo até vender muitos discos nesses locais. Contudo, Minta não prevê concertos muito grandes num futuro próximo "Acho muito dificil irmos ao coliseu em nome próprio. Sei lá, se calhar o tempo vai dizer que estou errada…" Apesar de não se imaginar a tocar no Pavilhão Atlântico, Minta pode ser considerada uma sortuda.
      Partilha o palco com David Fonseca, e prevê que irá voltar a juntar-se a ele na sua próxima digressão. Está segura de que poder trabalhar com ele a afecta: "A rotina de tocar com aquelas pessoas, que são todos eles músicos extraordinários, e com o David, que é um tipo com uma auto-confiança gigantesca influencia-me, de certeza." Surgiu também o nome Roger Seibel, que masterizou o disco "Olympia". No entanto, o trabalho não foi bem em conjunto: "Trabalhamos só por internet. Ou seja, não conheço o senhor, nunca falei com ele. Ele fez este trabalho (masterização) numa data de discos que nós gostamos e foi por isso que entrámos em contacto com ele". Discos como os de Elliot Smith, Laura Veirs ou M. Ward, que alguns membros da banda apreciam. "Sabiamos que ele ia perceber perfeitamente o que é que nós estávamos a fazer, porque trabalhou em discos com um estilo de música parecido com o nosso." Considerou trabalhar com Roger uma experiência extremamente eficaz, apesar de lamentar ter sido apenas cibernáutica. Já trabalhou até com B Fachada, que conhece desde os 9 anos: cantou no disco "B Fachada é Pra Meninos" e tocou nos concertos de apresentação do álbum, que contou com uma ida ao Super Bock Super Rock e ao Maria Matos. "Foi uma experiência muito limitada no tempo, de que gostei muito", recorda. Reflectiu ainda sobre o facto de os músicos portugueses fazerem muitas colaborações, dizendo que esta não é uma moda nova: "o José Mário Branco e o Sérgio Godinho também tocavam nos discos uns dos outros, e o Fausto gravava com o José Afonso, com quem o Quim Barreiros também tocou acordeão. Está sempre tudo ligado nos meios artísticos, ainda por cima no nosso que é pequeno, e isso só tem vantagens. Mas nos outros países também é assim, quando vejo com atenção as fichas técnicas de discos da Costa Oeste dos Estados Unidos, começo a ver as mesmas pessoas".
     Para um projecto futuro, consegue apenas pensar num nome. "Gostaria de ter a oportunidade de gravar um disco nos Estados Unidos, com um produtor de quem gosto muito e que já gravou discos de que gosto, que é o Tucker Martine." Sonhos de uma mulher cujas outras ideias, outrora consideradas inalcansáveis, se vieram a concretizar. "Em Portugal tenho estado a trabalhar com toda a gente que queria, e acho que o resto vai acontecendo naturalmente".
      Tivemos ainda oportunidade de falar sobre o seu projecto paralelo, They're Heading West, que a levou ao Canadá e Estados Unidos não há muito tempo. "Foi um privilégio passar muito tempo a olhar para o mar e para as montanhas". Os concertos dados lá foram, segundo Minta, bastante diferentes dos de cá, apesar de não se achar preparada para julgar se o público é diferente do português. "O pessoal tem aquela simpatia superficial, mas que é muito simpática. E não houve nenhum concerto em que não fossem falar connosco ou comprar-nos CDs. Conseguimos comunicar com as pessoas, e para nós funcionou. Espero voltar lá em breve". Confirmou até que They're Heading West já tem falado em voltar aos EUA, o que irá depender de financiamento. Ao menos já têm destino certo - Nashville é o foco da sua curiosidade, e Minta refere ainda que gostaria de poder lá gravar. Não teve problemas em estar fora de Portugal - pelo contrário, "foi tão fácil. Se calhar dependeria se estivesse fora de Portugal e num sitio que não gostasse, mas estar num sitio tão fixe… Acho que foi dificil vir embora, nesse caso em particular foi mesmo dificil vir embora. Acho que tinhamos lá ficado mais duas semanas na paz, mesmo!" admite, sorrindo de forma sonhadora.
     E quanto a 2013? O que é que a Minta prevê para a banda? "Vamos continuar a apresentar este disco ao vivo, e 2013 começa com um concerto que ainda não está anunciado, em Lisboa. Depois disso não sei bem, tento não fazer planos a muito longo prazo…"

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