Fora do Casulo

Apresentação do novo álbum de Márcia no Cinema S.Jorge

“Muito boa noite” - com uma doce timidez. É assim que Márcia Santos sobe ao palco do Cinema S.Jorge.  Não esconde que não gosta da exposição nos concertos e de ter todos os olhos em si. Talvez por isso sobe ao palco tão acompanhada.
Casulo é o seu segundo álbum de originais. Dois anos depois de , a cantautora deixou as canções escritas no intimo do seu quarto e escreve agora sobre coisas tão diversas quanto a maternidade e a política, muito ao seu jeito, com a subtileza de quem se esconde por trás de uma suave voz que ecoa sobre uma sala cheia.

«Decanto», «Sussuro» e «Delicado» são as primeiras músicas da noite. Tendo apenas chegado às lojas no dia anterior, conseguem embalar uma audiência que se deixa levar, ainda que não consiga acompanhar cantando.
Para a primeira viagem a 2011, com o tema «Misturas», Márcia chama ao palco a primeira convidada da noite, “a querida Celina da Piedade”, que ao acordeão toca “uma canção do disco anterior, não obstante ao facto de ser o lançamento” do sucessor. Ainda na companhia da acordeonista, «Deixa-me ir», o primeiro single de Casulo, é cantado já com a ajuda de alguns membros do público, mais não seja por ser um tema actual, político até, não daqueles que se cantam frente à Assembleia, mas sim daqueles que inspiram a compreensão. Márcia faz referência também ao vídeo, realizado por Miguel Gonçalves Mendes.

“Espero que estejam a gostar, porque está quase a chegar ao fim. Os concertos são como a feijoada, pensem nisto”, diz entre risos. “Eu pelo menos demoro duas horas a cozinhar, mas depois como muito rápido”. Ainda em Casulo encontramos «Camadas» e «Menina». Para esta última, Márcia trouxe uma flor vermelha que colocou no cabelo e trouxe também o segundo convidado da noite, Samuel Úria, que a acompanha nesta faixa no disco. Samuel entra pelo lado direito do palco, a meio da música, e puxa por Márcia, que até então se tinha mantido reservada e quieta. Depois de apresentar todos os músicos, e ainda com Samuel Úria em palco, passa para o tema «Mais humano sentimento são», que surge com um novo arranjo com toques de bossa-nova e que tem história por trás. “Tocámos esta no Maxime, numa brincadeira, e temos vindo a tocá-la, desde 2009, sempre que nos cruzamos em concertos”, revela Márcia.

 «Pudera Eu», «A pele que há em mim», desta vez sem JP Simões, e «Vem» levam-nos de volta a . «Hora Incerta», «Brilha», «Paz da Noite», que podia ser uma canção de embalar e que marca o regresso de Celina da Piedade, e «Desmazelo» encerram o alinhamento no novo disco e revelam uma Márcia mais comunicativa e que se movimenta mais em palco.
«Pra quem quer» e «Cabra Cega», também do primeiro disco, foram os momentos altos do concerto. A primeira contou com um coro de vozes do público orquestrado pelo baterista João Correia e a segunda contou com a presença de todos os músicos convidados em palco, uma despedida “para disparatar".

No bilhete lê-se “Márcia”, mas deveria ler-se “Márcia e Amigos”. Mais de sete passaram pelo palco, uns ajudaram no disco, outros tantos estão espalhados pela plateia. E Márcia não poupa agradecimentos e salienta o espírito de camaradagem, ainda que não goste da palavra. Uma celebração de amigos, que não só puxa Márcia para fora do seu Casulo como permite desvendar um pouco mais sobre a pele que há em si.

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