Márcia fez-se acompanhar por cerca de uma dezena de músicos
em palco. Entre os instrumentos presentes pudemos encontrar a guitarra Manuel
Dordio (Minta & The Brook Trout), a bateria de João Correia (Julie &
The Carjackers), a guitarra pedal Steel de Filipe Cunha Monteiro (marido da
artista), percussão, coros e um naipe de metais. O alinhamento abriu com
«Decanto», o primeiro tema de Casulo,
ao qual se seguiriam «Sussurro» e «Delicado». Apesar de Márcia ter evidenciado alguma timidez nos primeiros
instantes do concerto, a barreira entre a artista e o público desmoronou-se com a entrada desenfreada e a participação totalmente desinibida
de Samuel Úria, um dos convidados da noite que acrescentou voz e guitarra aos
temas «Menina» e «Mais Humano Sentimento São». Já antes, Celina da Piedade
tinha subido ao palco – vestida a preceito e com um calçado que em muito se
assemelhava a Dorothy Gale do livros do feiticeiro de OZ – para emprestar o seu
talento e o som do seu acordeão a «Misturas» e «Deixa-me Ir» (mais tarde a
parceria viria a repetir-se em «Paz Da Noite»).
Foi com um notável desembaraço que o concerto prosseguiu,
com a artista a interpretar canções do seu recentemente estreado Casulo, a par de outras do álbum
anterior, e a mostrar-se muito mais comunicativa com o quase esgotado Cinema S.
Jorge. É notável sentir, nos intervalos da voz doce e amena que dá expressão às
letras – à primeira vista inocentes – de Márcia, uma urgência e uma vontade
vulcânica de transmitir uma intenção e uma mensagem, como é perceptível em
«Deixa-me Ir» e «Hora Incerta». Esta última, que Márcia assumiu ser a música
mais escura e profunda que alguma vez escreveu, veio acompanhada, no concerto
em questão, dum excelente apontamento psicadélico que casou na perfeição com a iluminação
envolvente e a névoa ténue criada em palco.
Chegado o final do concerto, e depois de uma despedida muito
aplaudida à artista e aos seus companheiros, o regresso ao palco ficou pautado
pela aprazível «A Pele Que Há Em Mim», canção que Márcia fez questão de
interpretar sozinha em cena e que perdeu, como já seria de esperar, algum do
brilho e magia com a ausência da voz de J.P. Simões. De seguida, «Vem»
proporcionou-nos um dos momentos mais ricos em termos de musicalidade com um exímio e irrepreensível solo de trompete que a própria artista
fez questão de salientar no final do tema. «Cabra Cega» encerrou o encore e contou
com o regresso de Samuel Úria e Celina Da Piedade ao palco, mas desta vez sem
nenhum papel específico a desempenhar, apenas com a finalidade de estarem
presentes no momento lúdico que colocou músicos e audiência a relembrar tempos de
infância.
Foi em celebração que a apresentação de Casulo chegou ao fim, com o público a agradecer por mais uma
excelente performance musical e com a música portuguesa a homenagear-se a si
própria com tais momentos intensos de partilha e camaradagem.
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