Como ser um Lester Bangs por um dia

James Chance, o torto

Para descrever James Siegfried ou James Chance ou James White é preciso baixar o som, parar a música, desligar mesmo tudo ou então ouvir, em alternativa, um chill out para não se escrever com muita fúria no sangue. O som que o saxofonista e compositor americano (agora com 59 anos) criou ou cria tem um imponência pouco fácil de digerir. É feito de um jazz improvisado e de rasgos de punk vindos dos anos 70, que podiam conduzir a impressões imediatas pouco verdadeiras. As primeiras conclusões são: muita confusão, desmesurada criatividade. 

E tudo começa pela capa do primeiro disco de James Chance and The Contortions, lançado em 1979. De óculos escuros, há uma mulher semi-vestida com um bikini meio rasgado. Do lado esquerdo está o título do álbum Buy e por baixo está 'Contortions'. Outra vez e se se fizer apenas uma visão rápida, o disco parece apelar a que se 'compre contorções'. Nada de estranho para um músico defensor do movimento No Wave, nascido em Nova Iorque, que sobrevivia contra o experientalismo, a música electrónica ou pop e um punk rock que emergia também naqueles anos.

Com mais detalhes, as cinco primeiras músicas daquele álbum explicam a mensagem de James: 'Design to Kill (desenhado para matar), 'My Infatuation' (a minha paixão), 'I Don't Wanna Be Happy (não quero ser feliz)', 'Anesthetic' (anestésico) e 'Contort Youself' (contorse-te). Assume que tem uma missão e que essa pode ser a sua paixão, é miserável, a sensibilidade dele está morta e a solução é recorrer às contorsões. O apelo é também extensível a quem o ouve, já que os seus concertos ficaram conhecidos por choques físicos violentos e intensos. 

Numa palavra, o som de 'Contort Yourself' podia figurar num anúncio a um produto de limpeza capaz de eliminar todos as bactérias do mundo ou num DVD de apelo às dietas mais dolorosas de outro mundo. James precisa de uma nova oportunidade (Chance) ou de uma folha em branco (White) para reescrever a sua história. E podia ser só para que as aparelhagens continuassem ligadas.


* Leslie 'Lester' Bangs foi um jornalista e crítico de música, nascido na Califórnia, EUA em 1948. Colaborou com as revistas Creem e Rolling Stone e ficou conhecido pela forma mordaz e crua como analisava os artistas e o panorama musical. Mais focado na cena rock, foi reconhecido por criado o termo 'Heavy Metal', referindo-se a Black Sabbath e Led Zeppelin. Formou ainda a sua própria banda, Birdland, e em 1980 gravou o disco Jook Savages on the Brazos como Lester Bangs and the Delinquents. Faleceu aos 33 anos de overdose.  

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