Rockabilly: a música e a estética, junções e separações



Origens

O rockabilly foi uma das primeiras formas de rock n’roll que ganhou popularidade nos anos 50. Oriundo do sul da América, caracteriza-se por músicas de rock dançáveis e rápidas. Vai buscar muito ao swing dos anos 20, como também à música country. A própria palavra rockabilly resulta da junção de rock e hillbilly, um nome que nos anos 20 era dado à música dos brancos que trabalhavam no campo (country), por oposição aos race records (rhythm and blues) que eram feitos por negros.

Os Maddox Brothers and Rose foram uma banda hillbilly muito popular na Califórnia, entre 1940 e 1950, composta pelos cinco irmãos Maddox. Os seus ritmos acelerados e letras provocadoras abriram caminho para o que viria a ser o rockabilly. Mas, mais do que a música, foi a técnica slap-back, utilizada por Fred Maddox no contrabaixo, que consiste em bater nas cordas em vez de tocá-las individualmente, que acabou não só por ser adaptada para o rockabilly, como por ser uma das imagens de marca das bandas do género.

Carl Perkins foi outro dos pioneiros do género. A Perkins Brothers Band começou por tocar em pequenos bares do Tennessee. O público queria ouvir músicas hillbilly, que eram tocadas a um ritmo frenético. E, ao ver a reacção que esta mudança causava na multidão, Perkins começou a escrever músicas para o efeito, concentrando-se no ritmo e indo buscar influências ao blues e ao country.

As editoras rejeitaram este “novo estilo de country acelerado” que não se integrava na música comercial da época. Mas, tudo mudou em 1954, com a música «Rock around the clock» de Bill Haley and the Comets, que foi um dos singles mais vendidos da história e que foi utilizado como banda sonora para vários filmes da época.

Elvis Presley e Wanda Jackson, duas lendas da música rock, também ajudaram este novo género a ganhar popularidade. “Na altura chamávamos-lhe Elvis’s kind of music. Em 1955, a maioria das músicas country falava sobre as dificuldades e a vida adulta. O rockabilly foi uma lufada de ar fresco. A guitarra eléctrica substituiu o violino e a música era sobre batidas fortes e a alegria de ser jovem” explica Wanda numa entrevista ao Wall Street Journal.

A música rockabilly manteve-se popular até aos anos 60, altura em que a “invasão inglesa” e a Motown lhe roubaram o protagonismo. Contudo, voltou em força nos anos 80 com um revivalismo no Reino Unido e com a popularidade alcançada pela banda Stray Cats, mantendo-se viva até aos dias de hoje, ainda que não tão intensamente.

Estética, moda, pin ups e hot rides 



Não foi só a música que passou por um revivalismo, a moda também. Os lenços na cabeça, os batons vermelhos, os casacos de cabedal, os vestidos às bolinhas, ou polka dots como são conhecidos, os calções curtos de cintura subida, as camisas usadas em looks informais, os padrões, as saias-lápis, os camisolões largos e até as calças pretas justas. Hoje em dia, os anos 50 e a sua atitude provocatória estão muito presentes na moda e na forma de vestir. E muitos destes artigos são produzidos pelos grandes estilistas e marcas.

“O termo rockabilly descreve o estilo de vida como o vemos hoje. Nos anos 50 essa palavra não existia. Eram apenas adolescentes a ser adolescentes” explica Kim Casamassima, uma fã do estilo vintage, em entrevista à Collectors Weekly. Tudo começa com os filmes dos anos 50. As personagens principais são sempre adolescentes rebeldes, que chateiam os pais porque ouvem músicas rock barulhentas, conduzem rápido, fumam muito e usam roupas apertadas. Foi nesta altura que a rebeldia e a adolescência começaram a andar de mãos dadas, o que acontece inclusivamente nos dias de hoje.

“O termo tem sido muito banalizado. Hoje em dia tens, de um lado, um grupo que gosta de guiar cadillacs cor-de-rosa, beber um batido ao jantar num drive-in e comprar roupa com padrão de chamas ou cerejas e , do outro, tens um outro grupo que gosta dos carros e da música dos anos 50 e que tenta, de certa forma, voltar atrás no tempo, uma visão muito romântica desta era.”, afirma Kim.

O ideal de mulher nesta altura era uma mulher curvilínea, confiante, provocadora, que usava roupas justas, delineador nos olhos e batom vermelho nos lábios, mantendo uma certa classe. É a chamada pin up. Bettie Page e Marilyn Monroe são os exemplos clássicos e foram modelos para uma geração de raparigas adolescentes da época. Vestidos, saias, camisolas de malha; com padrões, contrastes e cores vivas. E quanto mais justo melhor. O cabelo encaracolado para cima ou então com franja, podendo utilizar um lenço ou até uma flor como adereço. Os homens utilizavam casacos de cabedal, as camisas de flanela aos quadrados e as cuffed jeans, calças que tinham uma dobra no final, e ou as chamadas botas de engenheiro ou uns converse all star. Já o cabelo era penteado de forma a formar uma pequena poupa. Os exemplos são James Dean e Elvis Presley.

Contudo, isto não era apenas moda. Na altura, muitas famílias eram pobres e por isso a roupa era muitas vezes passada entre irmãos. O cabedal era um dos materiais preferidos dada a sua resistência e durabilidade. As calças tinham dobras porque muitas vezes eram grandes demais e as combinações de padrões e cores vivas tinham como base uma tentativa de actualização de estilo, utilizando peças antigas.

Outra das marcas do estilo rockabilly são os carros e motas clássicas. Como já foi referido, muitos destes adolescentes vinham de famílias pobres. Os rapazes muitas vezes começavam cedo a trabalhar, em part-time, depois das aulas, em oficinas de mecânica locais. Daí os carros clássicos que muitas vezes conduziam e daí as roupas resistentes que vestiam.

Hoje em dia o look rockabilly quer-se com exageros de maquilhagem, combinações de padrões estranhos, roupas muito apertadas e a invocar o estilo burlesco e poupas desmesuradamente grandes, que na altura não eram permitidas nas escolas. Assim como as tatuagens, estes foram acrescentos de um novo estilo que surgiu cerca de 30 anos depois: O psychobilly.

Quando o rockabilly e o punk se encontram 



Muitos dos adeptos da moda e da música rockabilly actualmente são, na verdade, adeptos do psychobilly, um estilo que surgiu no final dos anos 70 pela mão dos Meteors no Reino Unido e dos The Cramps nos Estados Unidos. O termo foi inspirado na música «One piece at a time» de Johnny Cash, que fala sobre a construção de um Cadillac. Este novo género junta o rockabilly e o punk. O contrabaixo do rockabilly substitui o baixo eléctrico usado no rock da altura, as letras sobre o melhor da juventude e as batidas fortes são substituídas por letras sobre assuntos taboo como a violência e a sexualidade mais escabrosa, mas também sobre ficção científica e filmes de terror, evitando a política.

Já a estética mantém-se a mesma do rockabilly, mas mais por opção do que necessidade. É comum ver tatuagens e sleeves nos fãs de psychobilly, coisa que nos anos 50 apenas era visível na marinha e no exército. Também é comum ver as mulheres a utilizarem corpetes e cabedal. Já os carros clássicos são substituídos pelas motas e choppers.

O rockabilly/psychobilly é, por isso, um perfeito exemplo de um estilo cuja estética perdura até aos dias de hoje e cujos picos de popularidade nem sempre coincidiram com os da música.

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